Muitos são os planos para quando tudo isso passar. Os mais tocantes são os simples. Um amigo não vê a hora de bater um papo na esquina, sem compromisso, ao acaso. De todas as ausências não definitivas, uma que dói fundo é a saudade que sentem avós e avôs longe dos netinhos, o carinho e o afeto substituídos por fotos e vídeos. Com a pandemia, caiu de vez a ficha de que o real é uma coisa e o virtual, outra.
Conheço festeiros natos, mas que não são estúpidos. Têm resistido bravamente a sair de casa e terminar a noite no Sat's, em Copacabana, bebendo a saideira. Não passa um dia em que eles não sonhem com o Carnaval, adiado para julho. Eduardo Paes é um entusiasta da ideia: "Vamos fazer a maior festa da história", disse o prefeito eleito. A Liesa não perdeu tempo e definiu a ordem dos desfiles no Sambódromo: Imperatriz abre, Vila Isabel encerra.
Se não houver vacina, pode esquecer. Mas, se ela for eficaz e segura, e se a imunização for feita a tempo, o roteiro da farra está pronto: as rodas de samba com feijoada nos bares, os blocos nas ruas, os ensaios nas quadras, até o grande final na Sapucaí. Sem falar nas festas juninas e julinas, que nos subúrbios do Rio são animadíssimas. Uma celebração da vida para botar no chinelo o Carnaval de 1919, logo em seguida à gripe espanhola e que registrou, nove meses depois, um extraordinário nascimento de bebês.
Divirto-me desde já imaginando a quantidade de críticas que a folia fora de época irá provocar. Desde já, também, aconselho o pessoal do contra a poupar os argumentos. A festa, por enquanto, é só um sonho maluco. A não ser que aconteça o improvável, e o governo federal ponha em prática um plano de vacinação eficiente.
Até lá, a banda dos antivaciners vai continuar a fazer o seu Carnaval, tendo o presidente da República, fantasiado de jacaré, como porta-estandarte da morte.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.