Pelé sempre se sentiu em casa no estádio Jornalista Mario Filho. Em 1961, driblou sete adversários antes de faturar o "gol de placa", em cima do Fluminense, cuja torcida o vaiava minutos antes. Em 1969, fez o milésimo, de pênalti, vencendo o goleiro argentino Andrada, do Vasco. Contra o Paraguai, classificou o Brasil para a Copa de 70, provando que craque também sabe bater de bico. Sorte de quem viu o rei no Maracanã. Sei disso porque sou um dos sortudos.
Sem nada de importante a fazer na presidência da Alerj, o deputado André Ceciliano (PT) bolou um projeto para que o Maracanã passe a se chamar Rei Pelé. Após ter sido destruído para a Copa de 2014 —ao custo superfaturado de R$ 1,2 bilhão, fora as propinas— e se transformado em "arena", ganharia nova utilidade: tornar-se filial, pois já existe um Rei Pelé em Maceió.
Menos mal: Mario Filho, autor do clássico "O Negro no Futebol Brasileiro" e da hagiografia "Viagem em Torno de Pelé", continuaria a ser homenageado, batizando todo o complexo esportivo que inclui, além do campo de futebol, o ginásio do Maracanãzinho e o estádio de atletismo Célio de Barros.
Irmão mais velho de Nelson Rodrigues, Mario promoveu até campeonatos de botão. Com cabelos e sobrancelhas cor de ferrugem e um charuto no canto da boca, inventou a imprensa esportiva no país, formulando para si mesmo a pergunta: se o jogo é no domingo, por que não se começa a falar dele nos dias da semana? A construção do Maracanã no bairro do Maracanã deve-se a ele, ao combater, pelo Jornal dos Sports, a proposta do vereador Carlos Lacerda de levar o estádio da Copa de 50 para Jacarepaguá.
Mario Filho é um nome perfeito. Mas não adianta. Na época da inauguração era estádio Mendes de Moraes, nomeação que foi ignorada pelos cariocas. Que vão continuar ignorando qualquer mudança. O Maracanã é simplesmente o Maraca.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.