Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva

Odorico ou Bolsonaro?

São injustas as comparações do prefeito de Sucupira com quem ocupa o Planalto; aquele pelo menos sabia falar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O personagem Odorico Paraguaçu, imortalizado por Paulo Gracindo, desfruta hoje de tanta popularidade quanto na época em que a novela "O Bem-Amado" foi exibida, em 1973. Coisas de memes: internautas recuperaram a cena em que o prefeito da fictícia cidade de Sucupira desvia vacinas que poderiam conter uma epidemia e, alertado para sua desumanidade, dá de ombros: "E daí?".

Chega a ser assombrosa a coincidência com o Brasil sob Bolsonaro. Mas injusta com Odorico. Populista, corrupto e inculto, o político de Dias Gomes tinha lá seu charme baiano. Sobretudo no uso da linguagem, inspirada nos sermões tonitruantes de Carlos Lacerda e no estilo cômico de José Cândido de Carvalho no romance "O Coronel e o Lobisomem". Bolsonaro, chefe de uma Sucupira profunda, não sabe o que é um discurso elaborado; o negócio dele é cuspir palavras e palavrões.

A obra está de volta no streaming. Assistir a ela de novo ou pela primeira vez é uma experiência antropológica. No meio de uma conversa aparentemente normal, os seres humanos param de falar, põem a mão no bolso, pegam uma carteira, dela tiram um estranho bastonete, levam-no à boca e o acendem! E, incrível, as pessoas bebem de uma maneira antes conhecida como "socialmente", sem que no capítulo seguinte apareçam numa reunião dos Alcoólicos Anônimos.

As melhores interpretações (o Zeca Diabo de Lima Duarte, o Dirceu Borboleta de Emiliano Queiroz, Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio como as irmãs Cajazeira) escapam ao cacoete da espontaneidade que marcou a dramaturgia da TV Globo.

Um prazer é reencontrar Nezinho (Wilson Aguiar) e seu jegue Rodrigues --uma brincadeira de Dias Gomes com seu desafeto Nelson Rodrigues. Sóbrio, Nezinho idolatra Odorico; bêbado, o chama de "ladrão de cavalo". Até nisso Bolsonaro perde na comparação: seus adoradores e detratores não são tão engraçados.

Zeca Diabo (Lima Duarte) e Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) em cena de 'O Bem-Amado' - Divulgação

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.