Como naquela antiga série de TV --"The Twilight Zone", criada por Rod Serling, misturando ficção científica, suspense, fantasia e terror--, o governo entrou numa outra dimensão, "tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito". Um mundo colateral, uma zona fantasma, uma região submersa, onde a mentira está além da imaginação.
A situação absurda em que estamos mergulhados permite que o presidente trate com naturalidade tanto a existência do orçamento paralelo --R$ 3 bilhões destinados a bancar o silêncio e o apoio do Congresso-- quanto a sua criminosa condução do enfrentamento da pandemia. Com a vacinação longe da velocidade ideal, o Brasil se aproxima do meio milhão de mortos, e muita gente não se espanta mais com o horror.
A CPI em curso —já encarada por parte da população como entretenimento— está sob risco de desmoralização. O ex-chanceler Ernesto Araújo caprichou na cara de pau ao negar que tenha feito ataques à China. "Ah... uh... ah", gaguejou ele, antes de mentir. Aliás, é Comissão Parlamentar de Inquérito ou Concurso de Lorotas, Patranhas e Cascatas?
Com seu depoimento, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello candidatou-se a ganhar o Oscar na categoria versões e contradições. Ensaiado para defender o chefe e protegido por habeas corpus, interpretou o papel do militar cumpridor de ordens e arrogante. Até quando passou mal e sofreu perda de consciência conseguiu disfarçar afirmando que, pelo contrário, nunca se sentiu tão bem na vida.
Mas uma hora deu branco --lapso de memória que pode ocorrer aos mais experimentados atores--, e ele deixou escapar ao menos uma verdade. Bolsonaro comandou a reunião em que o governo decidiu que, diante da crise de oxigênio, não haveria intervenção na saúde do Amazonas. No anticlímax do espetáculo, o general entregou o maior culpado de todos: Bolsonaro.
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