No início dos anos 80 —quando Chico Buarque e Francis Hime fizeram a canção "E Se", cheia de interrogações ligadas à época ("E se o meu país for um jardim?", "E se o Botafogo for campeão?")—, o Brasil ainda vivia sob o regime militar. Foi uma década considerada perdida do ponto de vista do crescimento econômico e que terminou com hiperinflação. O mesmo caminho do brejo para o qual Bolsonaro está nos levando.
Havia a esperança da redemocratização, e era nela que os compositores se agarravam ao formular hipóteses de vida: "E se o meu dinheiro não faltar?/ E se o delegado for gentil?/ E se tiver bife no jantar?/ E se o Carnaval cair em abril?". Ter carne no prato hoje é tão difícil quanto, ou até mais. Em compensação, o Botafogo está perto de ganhar o título da Série B.
O outro clube que aparece citado na música como improvável campeão é o Arapiraca. Em 2000, depois de 47 anos sem levantar uma mísera taça, o ASA (Agremiação Sportiva Arapiraquense) sagrou-se campeão alagoano e, desde então, tem beliscado alguns torneios menores, sem alcançar a projeção de CSA e CRB, ambos da capital Maceió.
No campeonato do orçamento secreto, entretanto, Arapiraca se destaca. Está na vice-liderança, tendo recebido até agora R$ 64 milhões, grana das chamadas emendas do relator. Conhecida como terra do fumo, a cidade com pouco mais de 200 mil habitantes —mas reduto eleitoral de Arthur Lira, o presidente da Câmara— só fica atrás de São Gonçalo, o município mais populoso e pobre do Rio de Janeiro, com R$ 75 milhões.
Nem a decisão do STF de suspender o pagamento —estão reservados R$ 16,8 bilhões para a farra— diminui a fome do centrão e de aliados do governo. Como em toda jogada bem planejada, há um lado B: a benesse poderá sair diretamente dos ministérios para o bolso dos parlamentares. Dane-se se o oceano incendiar, se cair neve no sertão, se o urubu cocorocar. Avanti, Arapiraca!
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