Não sei se o Réveillon de Copacabana reúne o número de pessoas —2 milhões— divulgado pela prefeitura. O que posso afirmar é que, nas vezes em que me aventurei a molhar as canelas no mar, nunca vi tanta gente. Onde a muvuca é maior, você não consegue se mexer. Quanto mais abrir a garrafa de sidra para comemorar a chegada do ano novo. Surpreendentemente a multidão chega e vai embora de maneira pacífica e organizada.
Em outros tempos, a festa era pequena, quase secreta. Por iniciativa do líder religioso Tancredo da Silva Pinto, o Tata Tancredo, os umbandistas ocupavam praticamente sozinhos as areias para louvar Iemanjá com batuques e oferendas. Lembro um ponto de macumba depois utilizado num anúncio da cachaça Praianinha: "Vamos homenagear/ Iemanjá, a rainha do mar". De longe, a classe média observava. Os mais animados recebiam um passe de caboclo.
Quando a confraternização se transformou em evento mundial bancado pelo poder público e a rede hoteleira, o povo de santo foi expulso ou aderiu ao espetáculo como mais um componente do pacote turístico, ao lado da queima de fogos e dos gigantescos palcos para apresentações de artistas populares. Virou uma curiosidade que os velhos contavam e ninguém queria ouvir: sabe como tudo isso começou?
Apesar da pandemia com novas cepas do vírus e agora da epidemia de influenza na cidade, o show não pode parar. O prefeito Eduardo Paes havia cancelado o Réveillon, voltou atrás e, combinado com o governador Cláudio Castro, anunciou foguetório em Copacabana. É um convite à aglomeração. As autoridades estudam um jeito de restringir o transporte, quer dizer, mais pessoas agrupadas e provável caos na hora de chegar e sair.
Castro e Paes jogam a responsabilidade para seus comitês científicos, que ainda não trocaram figurinhas, mas terão a palavra final. Que a sombra do ministro Queiroga, o médico sabujo, não esconda a ciência.
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