Será que um dia vamos sentir saudade da máscara? Vai demorar um tempinho. Só no futuro, com a distância do esquecimento, quando se puder olhar sem aflição e com estranha nostalgia para as imagens cotidianas dos últimos dois anos. Ferramenta mais básica de proteção ao vírus, ela injustamente virou um símbolo da morte e do medo, e isso explica a pressa e o alívio em abandoná-la.
Incômodas, asfixiantes, calorentas. Seu uso debaixo do nariz, no queixo ou na garganta era um artifício tosco para driblar a obrigatoriedade. Máscaras de todos os tipos —as recomendadas N95 e PFF2, as vagabundas e as de grife— caíram no Rio. O decreto do prefeito Eduardo Paes utiliza o termo "facultativo", mas na prática é uma liberação geral e irrestrita. Periga não serem usadas nem como fantasia no Carnaval de abril. Os camelôs já se movimentam para arrumar outro carro-chefe de vendas.
Ao contrário dos paulistanos, livres da exigência somente em locais ao ar livre, os cariocas estão autorizados a entrar no ônibus, trem ou metrô, todos lotados, sem proteção contra o vírus que —é bom lembrar— não deixa de circular nem de matar por vontade dos governantes. No primeiro dia da nova ordem, algumas pessoas ainda estavam com o rosto encoberto; na manhã seguinte era como se tivéssemos voltado a dezembro de 2019 ou janeiro de 2020, o esplendoroso verão antes da peste.
Os mais felizes com a medida, naturalmente, são aqueles que faziam de tudo para descumprir a determinação, os valentões que ameaçavam bater e matar a tiros quem lhes tolhesse a liberdade de contaminar e ser contaminado. Eles continuam na luta, mas adotando outra prática. Ao avistar um mascarado, se aproximam e exigem: "Tira!".
Malandro é o gato: já nasce de bigode. Como Maduro, da Venezuela, que apoiou a Rússia na invasão à Ucrânia e agora vai vender petróleo para os Estados Unidos.
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