Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Botecos de Copacabana venceram a pandemia

Morador do bairro inventariou 75 pés-sujos e publicou a lista no Twitter

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Como é de conhecimento geral, Marcello Crivella foi o pior prefeito da história do Rio. A prova é que, mesmo sendo sobrinho do homem, a Igreja Universal barrou sua candidatura a governador. Mas Crivella, vá lá, fez uma coisa boa. Uma única: em 2018 decretou o tombamento de oito pinturas a óleo de Lino e Nilton Bravo, pai e filho, que decoram bares da cidade, entre os quais o Jobi, no Leblon, e o Flor de Coimbra, na Lapa.

Quadro de Nilton Bravo na parede do Adega Flor de Coimbra, tradicional botequim do Rio que fechou durante a pandemia
Quadro de Nilton Bravo na parede do Adega Flor de Coimbra, tradicional botequim do Rio que fechou durante a pandemia e se prepara para reabrir as portas - Rixa/Arquivo Pessoal


Foi uma surpresa. Ninguém jamais viu Crivella entrar num boteco, muito menos desconfiava que ele apreciasse a palheta de Nilton Bravo. A pedido do freguês, o pintor não se importava em recriar no mesmo cenário, de maneira harmoniosa, o Pão de Açúcar, a Igreja da Penha e o Maracanã. Mas o ex-prefeito tinha de honrar a fama: deixou sem proteção outras 10 pinturas do "Michelangelo dos botequins", as quais podem desaparecer.


Se até os bares morrem, o que dizer dos murais coloridos e delirantes? Muitos estabelecimentos sumiram do mapa na pandemia. Um bairro, no entanto, se destacou na luta pela sobrevivência: Copacabana, com seus pés-sujos, pés-limpos (um deles, o Sat’s, virou o mais novo patrimônio cultural na lista da prefeitura) e restaurantes tradicionais como o La Fiorentina, no Leme, cujo imóvel acaba de ser tombado por Eduardo Paes.


Num ato cívico-etnográfico-carioca, um morador de Copa registrou a vida de 75 botecos e publicou a lista com fotos no Twitter. Tudo foi apurado a pé, segundo Eduardo Freitas, o "Preá", que andou e bebeu 3,5 quilômetros, da rua Joaquim Nabuco até a avenida Princesa Isabel.


Outro dia o historiador Luiz Antonio Simas, numa mesa do Bode Cheiroso, lembrou que birosca é anagrama de rabisco e que o melhor lugar para rascunhar ideias é o bar. Para conversar continua ótimo, tendo-se o cuidado, nos dias que correm, de deixar o menu político de fora. Xingar o técnico português do Botafogo ainda é permitido.

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