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Como vamos alimentar 10 bilhões de pessoas?

Mundo já produz comida suficiente para 9 bilhões, mas ainda existem problemas que podem piorar

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Mãe espera com filho de dez meses no colo em fila para distribuição de comida em Malualkuel, no norte do Sudão do Sul
Mãe espera com filho de dez meses no colo em fila para distribuição de comida em Malualkuel, no norte do Sudão do Sul - 5.abr.2017/Associated Press

A Fundação Nobel, conhecida pelos prêmios que concede todo ano a algumas das mentes mais brilhantes do mundo, promoveu no último domingo em Yokohama, no Japão, um debate sobre “O Futuro da Comida”.

Cinco vencedores do Prêmio Nobel em diferentes categorias* e especialistas de vários continentes discutiram diversos temas relacionados à comida. O principal deles: como alimentar uma população mundial que chegará aos 10 bilhões de pessoas por volta de 2050? Trata-se, segundo boa parte dos presentes, de um dos maiores desafios da humanidade para as próximas décadas.

Estima-se que o mundo já produza comida suficiente para alimentar cerca de 9 bilhões de pessoas —bem mais do que a população atual de 7,6 bilhões. Mas ainda existem vários problemas, que podem piorar.

O primeiro deles é a desigualdade na distribuição e acesso à comida. Cerca de 800 milhões de pessoas são desnutridas, basicamente passando fome. Nada menos do que 2 bilhões se alimentam muito mal e apresentam deficiência nutricional. E outros 2 bilhões são obesos. Ou seja, mais da metade da população mundial sofre de algum problema relacionado à alimentação.

O desafio, neste caso, é adotar políticas que garantam o acesso a comida de boa qualidade, especialmente para as populações mais pobres. Isso inclui, de um lado, políticas que tirem pessoas da pobreza e, do outro, o controle de algumas indústrias alimentícias e maior informação sobre os seus produtos.

Outro grande problema apontado diz respeito à agricultura. Para continuar produzindo comida para toda essa gente, a atividade vai ter que se modernizar muito. Foi quase um consenso entre os debatedores que a agricultura simplesmente não pode continuar operando como hoje, consumindo nada menos do que 70% da água do planeta e utilizando, muitas vezes, técnicas obsoletas que afetam muito negativamente o meio ambiente. Alguns alertaram para a necessidade de se fazer muito mais investimentos em tecnologia e pesquisa para se aumentar a produtividade e mudar muitas práticas do setor.

O Brasil foi apontado por pelo menos um debatedor, o Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, como um exemplo positivo pelos níveis de produtividade agrícola conseguidos com alguns cultivos. Mas não houve nenhuma discussão sobre outros aspectos da agricultura brasileira, como os impactos ambientais.

Para oferecer uma alimentação de qualidade a toda a população mundial, os debatedores também sugeriram que devem ser adotadas políticas para estimular a produção de cultivos variados —já que muitas plantações tradicionais estão sendo substituídas rapidamente por monoculturas de soja ou outros grãos, principalmente para exportação.

Houve ainda uma rápida discussão sobre o envelhecimento dos agricultores no mundo, com o jovens não querendo mais trabalhar na terra, e alguns aspectos potencialmente positivos de plantações geneticamente modificadas.

Depois de um dia de intenso debate, não houve uma conclusão única ou a divulgação de uma lista de recomendações para se resolver todos os problemas. Mas ficou muito claro que só vamos mesmo conseguir alimentar, com qualidade, toda a população mundial se muitas políticas forem revistas. Especialmente na área social, com a redução da desigualdade.


* Finn E. Kydland, Nobel de Economia 2004; Johann Deisenhofer, Nobel de Química 1988; Tim Hunt, Nobel de Medicina 2001; Ada Yonath, Nobel de Química em 2009; e Yoshinori Ohsumi, Nobel de Medicina 2016.

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