O apoio para a realização de um segundo plebiscito sobre o "brexit" vem aumentando muito no Reino Unido.
A maior indicação disso veio de uma pesquisa recente do instituto YouGov mostrando que metade dos britânicos quer ter o direito de votar para aprovar ou rejeitar o resultado das negociações do divórcio entre o país e a União Europeia (UE).
Apenas 25% acham que a palavra final cabe ao Parlamento, como está previsto em lei.
Até recentemente, todas as pesquisas mostravam que a população não queria nem saber de discutir o tema de novo.
Mas as negociações entre o governo conservador da primeira-ministra Theresa May e a UE continuam muito conturbadas e imprevisíveis.
Com isso, os britânicos começam a sentir que existe um grande risco de o país nem sequer conseguir chegar a um acordo formal com os europeus antes da data limite para deixar o bloco, 29 de março de 2019.
Esse temor fez o debate sobre um novo plebiscito ganhar cada vez mais força no Parlamento e na mídia.
Os militantes favoráveis à União Europeia também parecem cada vez mais entusiasmados e pressionam os parlamentares para aprovar uma nova consulta à população —que incluiria a possibilidade de novo voto a favor de o país continuar na UE.
A ideia vem recebendo cada vez mais apoio público de celebridades, dinheiro de alguns milionários e espaço na imprensa.
Mas as dificuldades práticas continuam sendo enormes.
Em primeiro lugar, o Partido Trabalhista, chefiando a oposição, está mais interessado na convocação de novas eleições do que num novo plebiscito.
Afinal, é muito provável que o governo May caia caso ela não consiga entregar um acordo minimamente razoável com os europeus.
E os trabalhistas acreditam que ganhariam uma eventual nova eleição, levando seu líder, Jeremy Corbyn, ao posto de primeiro-ministro.
Em segundo lugar, há muito pouco tempo para a aprovação de uma lei que convoque uma nova consulta antes do prazo final para o "brexit".
A legislação que criou o plebiscito original levou vários meses sendo debatida e não há nenhuma indicação de que os políticos favoráveis à ruptura com a Europa facilitariam as coisas para acelerar a discussão.
Por último, e mais importante, boa parte dos parlamentares temem as possíveis consequências de uma nova votação.
Eles acreditam que o país poderia ficar ainda mais dividido, aumentando inclusive o debate separatista na Escócia.
E a reação pode ser mesmo imprevisível.
Afinal, convocar um novo plebiscito tão perto do original poderia soar para muitos como uma virada de mesa política. Algo raro num país de longa e sólida tradição democrática.
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