Américo Martins

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Américo Martins

Algumas coisas simplesmente não podem ser vendidas

Futebol inglês se salvou de uma tragédia ao evitar que bilionário comprasse estádio de Wembley

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Acesso envidraçado de Wembley, com seu arco de fundo.
A entrada do estádio de Wembley, em Londres, principal palco do futebol inglês; à frente, a estátua de Bobby Moore, capitão da seleção campeã do mundo de 1966 - Daniel Leal-Olivas - 27.abr.18/AFP

O futebol inglês foi salvo por muito pouco de uma verdadeira tragédia na semana passada, quando o bilionário Shahid Khan retirou uma oferta para comprar o Estádio de Wembley.

De origem paquistanesa, o empresário norte-americano é dono do clube inglês Fulham Football Club e do time de futebol americano Jacksonville Jaguars.

Dizem que Khan queria comprar o icônico estádio para, entre outras coisas, promover mais jogos dos Jaguars em Londres —num trabalho de expansão da NFL pela Europa.

Para tanto, o bilionário fez uma oferta de compra de 600 milhões de libras (quase R$ 3 bilhões) à The Football Association, a federação inglesa de futebol e dona de Wembley.

A cifra pode impressionar os incautos, mas trata-se de uma verdadeira ninharia.

Afinal, estamos falando do estádio mais importante do mundo.

O lugar é tão especial que o grande Pelé contabiliza o fato de nunca ter jogado em seu gramado como a maior frustração de sua vida.

Certa vez, o melhor atleta brasileiro de todos os tempos se referiu a Wembley como “a catedral do futebol” —o local que abriga o coração do esporte bretão.

E, no caso, Pelé estava certo.

Foi lá que a seleção da Inglaterra levantou sua única Copa do Mundo até hoje e onde ficou invicta por décadas.

É lá que acontecem, desde 1923, as finais da Copa da Inglaterra —a competição de futebol mais antiga do mundo.

O velho estádio, com suas famosas Torres Gêmeas, era um pouco desconfortável mas muito especial.

Ele abrigou os mais importantes jogos da história do futebol inglês e shows de música inesquecíveis como o Live Aid, em 1985. Finais de rúgbi, o outro esporte nacional, também foram realizadas muitas vezes por lá.

O novo, inaugurado em 2007, continuou a tradição e vem recebendo praticamente todas as partidas da seleção inglesa em casa.

A região do estádio é associada ao futebol desde a década de 1880, quando Wembley já abrigava peladas em campos improvisados.

Querer importar um esporte estrangeiro para lá é demais.

Os Jaguars já jogam pelo menos uma partida por ano no estádio, o que dá lucro para a Football Association e para Khan. É mais do que o suficiente.

Ampliar o número de exibições dos norte-americanos é absolutamente desnecessário —especialmente se alguma partida de futebol deixar de ser realizada para que um jogo da NFL seja acomodado.

Ou se a seleção inglesa for forçada a atuar em outro campo —por exemplo, em Old Trafford, do Manchester United.

Khan resolveu desistir do negócio porque enfrentou a corajosa oposição de parte do Conselho da Football Association —que não ficou cego pelo dinheiro fácil.

Mas Khan tende a voltar à carga. Ele, como vários outros bilionários e alguns economistas, não entende que algumas coisas simplesmente não podem ser vendidas.

O Estádio de Wembley está no topo da minha lista.

Ele simboliza a alma do futebol, no país que inventou e desenvolveu o esporte.

Vender esta catedral seria um verdadeiro sacrilégio.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.