Américo Martins

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Américo Martins

Brexit expõe riscos de voto em propostas pouco debatidas

Acordo proposto pelo governo desagrada a quase todos no Reino Unido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Manifestante protesta contra o 'brexit' em Londres
Manifestante protesta contra o 'brexit' em Londres - Henry Nicholls/Reuters

O acordo sobre o “brexit” apresentado pelo governo britânico na semana passada parece ter desagradado a praticamente todo mundo no Reino Unido.

A imprensa, as redes sociais e boa parte do parlamento continuam criticando acidamente a proposta de divórcio com a União Europeia negociada pela primeira-ministra Theresa May –que repete sem parar que este é o único acordo possível para o país.

Uma parcela razoável do próprio Partido Conservador de May está trabalhando abertamente para derrubá-la. E o Partido Trabalhista, na oposição, conspira para forçar uma nova eleição, que poderia levar seu líder Jeremy Corbyn ao poder.

Outros grupos, por seu lado, continuam insistindo num improvável segundo referendo sobre a saída da União Europeia.

Escócia e Irlanda do Norte rejeitam o acordo, potencialmente ameaçando a unidade do país.

Vários ministros pediram demissão, os mercados desvalorizaram a libra esterlina e ninguém se entende na gritaria política estabelecida desde então.

A confusão toda mostra bem os riscos que os eleitores correm quando votam, em ambientes muito polarizados, em propostas pouco específicas e não discutidas em profundidade.

No caso britânico, a origem de toda essa bagunça está em boa parte na forma como o referendo foi convocado e debatido em 2016.

Nunca se soube exatamente o que a saída da UE poderia significar para o Reino Unido.

Na campanha pelo referendo, muita bobagem foi dita por todos os lados. Mas ninguém deixou claro, na ocasião, em que tipo de divórcio os eleitores britânicos estavam votando.

Assim, cada grupo criou expectativas diferentes para o futuro.

Muita gente votou simplesmente para acabar de vez com a imigração.

Alguns eram contra os regulamentos e normas civilizatórios da União Europeia, que eles entendem simplesmente como uma burocracia desnecessária.

Outros queriam e continuam defendendo que, fora da UE, o país adote uma economia ultra liberal, com baixos impostos e praticamente nenhum serviço público.

Os políticos não fizeram muita questão de esclarecer, então, quais seriam as dificuldades relacionadas ao “brexit”.

Muitos venderam a ilusão de que o país poderia ficar com o bônus sem ter praticamente nenhum ônus.

A própria Theresa May –que fez campanha durante o referendo para o país continuar na UE– criou sua própria versão do que seria o “brexit”: um divórcio no qual o Reino Unido limitaria muito a imigração, romperia com a supremacia da Corte Europeia de Justiça no país e pudesse tentar algum tipo de acordo comercial com os europeus.

Foi isso que ela diz ter entregue. Mas os detalhes são tantos e tão complexos que ninguém se deu por satisfeito.

Como as expectativas variavam bastante, era de se esperar que muitos ficassem decepcionados com o acordo negociado.

Mas a primeira-ministra conseguiu irritar praticamente todos os grupos políticos.

Talvez ela consiga sobreviver ao golpe tramado em seu próprio partido. Mas parece difícil que o acordo seja aprovado pelo parlamento em dezembro da forma como está.

O futuro continua incerto.

E os eleitores ainda correm o risco de acabar vendo implementadas politicas que não queriam.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.