Américo Martins

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Divisões sobre o 'brexit' criam cenário surreal no Reino Unido

Partidos, Parlamento e população estão tão divididos que consenso é praticamente impossível

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Manifestantes contrários ao 'brexit' durante ato em Londres - Henry Nicholls/Reuters

A decisão da primeira-ministra Theresa May de adiar a votação no parlamento sobre o acordo de divórcio com a União Europeia confirmou o caos político que tomou conta do Reino Unido.

O cenário é quase surreal.

Os partidos, o parlamento e a população estão tão divididos que é praticamente impossível chegar a um consenso mínimo sobre o futuro.

O país continua rachado, claro, entre os que amam e os que odeiam a União Europeia.

Mas agora também existem divisões profundas entre os que querem sair da UE de qualquer jeito, mesmo sem nenhum acordo de divórcio, e os que acham esse cenário catastrófico para a economia.

Um outro grupo está mais interessado em derrubar o governo para provocar novas eleições gerais –uma tese que ficou bem mais forte com a decisão de May de adiar a votação para evitar uma derrota acachapante.

Grande parte da Irlanda do Norte grita contra o acordo negociado pela primeira-ministra.

E muitos escoceses aproveitam as discussões para defender sua independência –o que pode colocar em risco a própria existência do Reino Unido.

E, claro, muita gente também defende que tudo isso pode ser ignorado e que o país deve simplesmente continuar na União Europeia. Seria como fingir que nada aconteceu.

No meio desse caos todo, alguns analistas e uma parte da imprensa passaram a defender a convocação de um novo plebiscito.

Eles alegam que já que os políticos não conseguem entender o que a população quer, então os eleitores deveriam dar a palavra final sobre o que exatamente imaginam para o futuro.

No papel, faz sentido. A soberania do voto popular resolveria a parada e conteria a balbúrdia criada pelos políticos.

Mas mesmo nesse cenário a confusão continuaria.

Só para começar, não existe o menor consenso sobre qual seria a pergunta na cédula do tal segundo e ainda pouco provável plebiscito.

Alguns defendem um simples voto sobre continuar na UE ou sair.

Mas esse voto binário já aconteceu, dizem os críticos, e a população já se manifestou. Os que votaram em favor do ‘brexit’ rejeitariam outra posição.

Uma segunda possibilidade seria a criação de um duplo referendo – com um primeiro voto sobre sair ou continuar na união; e um outro, sobre ter acordo ou não.

Mas os britânicos não conhecem a noção de votação em dois turnos.

E existe ainda a ideia de dar três opções para a população: 1) deixar a UE sem nenhum acordo; 2) aceitar o acordo negociado por May; e 3) permanecer na união.

Mas neste caso, pelo menos em tese, uma das propostas poderia ganhar com apenas 34% dos votos.

Isso não traria a representatividade necessária e só aumentaria as divisões políticas.

Como se vê, Theresa May ganhou tempo ao adiar a votação. Mas mergulhou o país numa confusão ainda mais profunda.

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