Você não tem o perfil que estamos procurando. Difícil encontrar uma pessoa negra adulta no Brasil que nunca tenha ouvido essa sentença, independentemente de estar ou não qualificada para o trabalho. Seleções profissionais que têm a raça como um critério não são novidade por estas terras.
A inovação é que agora a roda começou a girar ao contrário, favorecendo quem habitualmente é preterido. Parece surreal, mas o tom da pele e a textura dos cabelos ainda são itens relevantes na seleção nada natural imposta e praticada pela estrutura racista sobre a qual está fundada a sociedade brasileira.
Por isso, quando uma empresa decide colocar em prática uma ação afirmativa para enfrentar a desigualdade de raça que há séculos alija e prejudica pretos e pardos no mercado de trabalho nacional, isso merece consideração. E respeito.
Não que se trate de benevolência. Ao contrário. A questão central é implementar uma iniciativa de gestão que tem tudo para aprimorar o desempenho do negócio. E, de quebra, traz embutido um componente de avanço no rumo de um país menos desigual.
Uma porteira pela qual estão passando empresas que atentaram para o fato de que a inclusão é uma via de mão dupla está se abrindo lentamente. Promover a diversidade racial não só no chamado chão de fábrica, mas também entre gestores, é algo bom para o business.
Espernear alegando um imaginário "racismo reverso" é sinal ou de desinformação ou de má-fé —ou as duas coisas. Quando uma sociedade estruturalmente racista reage mal a uma ação afirmativa de inclusão racial, é sinal de que a decisão é acertada. Racismo é uma coleção poderosa de políticas que levam à desigualdade racial, como escreveu Ibram X. Kendi.
Se não é fácil dividir, é ainda mais difícil ficar sempre sem provar uma fatia do bolo.
Parabéns, Luiza! Nas palavras do poeta, "Se todos fossem iguais a você/Que maravilha viver".
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