Gosto de pensar que o dia 6 de janeiro de 2021 vai entrar para a história como a data em que, ao eleger o primeiro senador afro-americano do estado da Geórgia, o movimento negro dos EUA conseguiu romper a barreira racista imposta durante séculos de dominação opressiva no sul daquele país.
A vitória do democrata Raphael Warnock para o Senado é resultado de anos de trabalho e articulação social dos negros americanos, mas não é exagero dizer que a grande artífice desse resultado foi uma mulher negra, a advogada Stacey Abrams.
Liderança influente no partido Democrata, Stacey idealizou o movimento que há quase uma década vem incentivando a maior participação eleitoral de minorias --especialmente negros. Sua atuação é tão marcante que ela já havia sido considerada peça fundamental no xadrez da vitória do presidente eleito Joe Biden na Geórgia, um estado de voto tradicionalmente republicano.
O mesmo 6 de janeiro também deve entrar para história como a data em que o planeta acompanhou, perplexo e em tempo real, a invasão do Capitólio por um bando de extremistas dispostos a atentar contra a mais antiga democracia do mundo moderno, desrespeitando a soberania do resultado eleitoral.
Além da gravidade do fato em si, saber que os "terroristas internos", como os invasores foram chamados por Biden, foram mobilizados e insuflados pelo Commander In Chief Donald Trump —que a partir dos jardins da Casa Branca garantiu de vez seu lugar no panteão dos maus perdedores— é coisa que faz lembrar o dito popular "se não sabe brincar, não desce pro play".
Há quem diga que a vitória dos democratas na Geórgia e o ataque desferido contra a democracia em Washington numa mesma data não é questão de coincidência. Prefiro pensar que se trata de um capricho do destino e um sinal de força da democracia, algo que aponta para o surgimento de um cenário diferente, onde há espaço para a diversidade, a divergência e o respeito.
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