Há 20 anos, eu morava em São Paulo e tive a oportunidade de entrevistar Octavio Frias de Oliveira. O encontro foi na sede da Folha, na região central da cidade. Eu trabalhava na revista Época.

Lembro bem do misto de ansiedade e insegurança que se apossou de mim, coração batendo acelerado por estar cara a cara com o dono de um dos maiores jornais do país fazendo um monte de perguntas.

Seu Frias, como era chamado, foi generoso comigo, à época uma jovem jornalista negra vinda do RS com a expectativa de conquistar espaço no mercado nacional de comunicação. Depois de responder a todas as minhas indagações, encerrou a entrevista me presenteando com um exemplar do livro “Primeira Página”, composto pelas 216 capas consideradas as mais importantes da Folha de 1921 até 2000, no qual escreveu o seguinte:

— “Para Ana Cristina Rosa, terrível inquisidora, homenagem da Folha”.

O presente e a dedicatória me pegaram de surpresa. Porém, em vez de simplesmente agradecer, num arroubo de ceticismo e atrevimento retruquei com um comentário sarcástico do tipo:

— “Esse seu terrível tem duplo sentido, mas vou tomar como elogio. Obrigada. Ah, e vou guardar bem esse livro para apresentar aqui na Folha quando eu precisar de emprego.”

Ele prontamente replicou:

— “O sentido é único e está bem claro. Quanto ao emprego, é seu quando quiser. E não precisa trazer o livro.”

Fiquei sem palavras.

Na época nem sequer imaginava que um dia faria parte do time de colunistas de opinião do jornal que este mês completa 100 anos. Gostaria de poder dizer ao seu Frias o prazer que sinto em publicar neste espaço.

Aos que ficaram curiosos, informo que nunca apresentei o livro e até agora esta história esteve restrita a um pequeno grupo de amigos. Porém, neste momento, pareceu apropriado compartilhar.

— “Para Folha de S.Paulo, na semana de seu centenário, os parabéns da Ana Cristina Rosa.”