Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa

Mercado mesquinho e miserável

O problema no Brasil não é falta de alimentos

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No celeiro do mundo, uma multidão de 20 milhões de desvalidos passa fome. Feito um bicho qualquer, homens, mulheres e crianças reviram o lixo em busca de sobras de comida, numa demonstração triste e vexatória do fracasso do Estado brasileiro.


Nas duas últimas décadas, o país tornou-se o quarto maior produtor de grãos —soja, arroz, milho, trigo e cevada— do planeta e o segundo maior exportador, abocanhando 19% do mercado internacional. É o que revela estudo da Embrapa intitulado "O Agro no Brasil e no Mundo: uma síntese do período de 2000 a 2020".

Em 2020, o rebanho bovino brasileiro correspondia ao maior do mundo, com 217 milhões de cabeças, equivalentes a 14,3% do rebanho mundial, sendo o Brasil o principal exportador desse tipo de carne. O rebanho de galináceos era o quarto maior da Terra, equivalente a 1,5 bilhão de cabeças, e o de suínos, com 41 milhões de cabeças, o terceiro do mundo. No mesmo período, o Brasil foi o terceiro maior produtor de frutas do globo, com uma colheita de 58 milhões de toneladas.

Diante do contraste entre os números majestosos do setor agrícola e os milhões de miseráveis garimpando restos de comida no lixo para sobreviver, fica evidente a constatação de que o problema no Brasil não é falta de alimentos.

Falta reduzir drasticamente as desigualdades. Falta emprego para que os milhões que se encontram sem ocupação possam comprar comida. Faltam políticas públicas que permitam ao povo viver com o mínimo de dignidade. A pandemia agravou o cenário, agregando mais um componente perverso: o luto em escala nacional.

Em meio a isso tudo, surgiu um deplorável mercado da fome, criado por gente que enxergou na penúria alheia uma oportunidade de fazer algum dinheiro cobrando pelo que usualmente era doado ou descartado. Assim o quilo do osso de boi foi precificado e colocado à venda.

Além de miserável, o mercado da fome é mesquinho e se alimenta da violação de direitos.

Mulher procura restos de alimentos de caminhão de lixo em Manaus - Edmar Barros/Futura Press/Folhapress

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