Fome, desnutrição e desemprego compõem a cena natalina do Brasil. Com milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e famílias inteiras vivendo pelas ruas, um pedaço de carne para comer e uma dieta nutritiva é o desejo de consumo de grande parte dos brasileiros no Natal 2021.
Não é de hoje que o fantasma da fome ronda o país, mas o problema se agravou muito na pandemia. Na última semana, manifestantes ocuparam supermercados numa ação pacífica e coordenada, mas que serve de alerta de que a paciência e cordialidade do povo têm limites.
Ainda assim, é impressionante a quantidade de gente incapaz de demonstrar empatia e solidariedade. A reação de uma elegante senhora carregada de sacolas de compras ao ser abordada por uma pedinte exemplifica bem. Obesa, a mulher alegava estar com fome e pedia ajuda em dinheiro ou alimentos. "Gorda desse jeito e dizendo que está com fome. Se quer dinheiro, vai trabalhar", vociferou a "cidadã de bem".
Combinação espantosa de ignorância, insensibilidade e grosseria. Certamente não é por falta de disposição de trabalhar que há milhões sem emprego. E apesar de todas as carências, o Brasil enfrenta ao menos um problema comum às nações ricas: a enorme quantidade de pessoas obesas ou com sobrepeso.
Isso se deve, em boa parte, à extrema desigualdade social. Alimentos saudáveis são mais caros do que comida industrializada, que costuma ser excessivamente energética e pouco nutritiva. Então é perfeitamente possível ser gordo e desnutrido, ou passar fome apesar de estar acima do dito peso ideal.
Mas o que esperar quando em SP, maior cidade da América Latina, até profissional contratado por shopping center para encarnar a figura do Papai Noel, o bom velhinho branco e bem alimentado que dá presentes para todos, se acha no direito de destruir sonhos infantis ao analisar a incompatibilidade entre os pedidos e a renda familiar de crianças negras?
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