O Rio de Janeiro, onde 90% dos mortos em ações policiais em 2020 eram pessoas negras (dado da Rede de Observatórios da Segurança) e que já abrigou "o maior entreposto de compra e venda de seres humanos do continente americano" (definição para o Cais do Valongo no livro Escravidão, Volume 3, de Laurentino Gomes) prepara-se para sediar o Congresso "Rio, uma cidade antirracista".
O evento ocorrerá no Museu do Amanhã, localizado na região portuária. É a mesma área onde fica o Valongo, lugar carregado de simbologia e de dor para quem tem ascendência africana —ou apenas sensibilidade e empatia. Há alguns dias, o museu também foi palco do "Escritas Pretas - Prêmio de Reconhecimento Literário" a artistas e escritores negros e indígenas, realização da ABL Artes Pretas e Originárias.
O Congresso, marcado para os dias 2 e 3 de setembro, está sendo organizado pela PerifaLAB, rede de coletivos independentes que pretende selecionar e formar quadros de moradores de favelas com o objetivo de ocupar estrategicamente espaços de poder. A ideia é multiplicar informações qualificadas sobre políticas urbanas, colocando o recorte racial em evidência no debate sobre como construir cidades mais seguras e saudáveis para pessoas negras.
Se a iniciativa vingar, pode ser um marco para uma transformação social de nossas urbes, em especial o RJ, segundo município com maior número de pessoas autodeclaradas negras no Brasil. Vai que surja algo inspirado no premiado arquiteto Francis Kéré, conhecido internacionalmente pelo trabalho focado na visão da arquitetura como fator de inclusão social e transformação do ambiente.
Semana passada, ao participar de um Congresso de Comunicação realizado no Rio, conheci o museólogo e jornalista Thainã de Medeiros. Homem negro, nascido e criado na Vila Cruzeiro, na Penha, ele define a famosa "Cidade Maravilhosa" como "bonitinha, mas ordinária". Alguém se arrisca a dizer por quê?
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