Para treinar, Daiana Dias corria em volta do quarteirão e implorava para jogar no time dos moleques. Aos 14 anos, arrumou uma vaga no Pacaembu. Sem dinheiro para o ônibus, ia de bicicleta. Queria ser profissional.
Conseguiu. É zagueira da Portuguesa e vai se formar em educação física. Conseguiu mais: abriu uma escola, a 9futsal, onde 65 garotas aprendem de graça futebol de salão e de campo.
Fazem vaquinha para pagar arbitragem, rifas para as bolas, emprestam um ginásio, sobrevivem com doações. Já colocaram uma menina no profissional do São José e outras mais jovens no São Paulo, no Corinthians e no Audax.
Daiana ganha quase nada. A subsistência da 9futsal dependia do salário do marido, representante comercial que perdeu o emprego há três meses.
Jornalista conta histórias. Obrigada a meus chefes homens por me deixarem contar esta aqui.
A regra justa, clara e bem aplicada produz eficiência. Vale para a economia, a criação de filhos e o futebol.
O árbitro de vídeo já está mostrando a que veio. Pesquisadores, quando tiverem resultados de seus estudos empíricos, lembrem-se de mim. Jornalista vive de informação exclusiva. Obrigada, editores homens, por me deixarem fazer este pedido aqui.
De perto, há boas notícias no Datafolha sobre futebol: o envolvimento das garotas é bem mais alto que o da média feminina. Dos 16 aos 24 anos, 42% delas se interessam pelo jogo, 23% vão ao estádio e 13% praticam o esporte.
Jornalista pega dados brutos e tira um significado. Obrigada aos chefes homens por mais esta janela.
Ia escrever hoje sobre o incômodo de estar na “cota das mulheres”, mas Lulie já deu a senha: há espaço; ocupemos! Aliás, se é pela diversidade, protesto contra o time dos musos publicado no sábado (16). Tem branco, negro, lenhador, mas o gato oriental é loiro. Eiji Kawashima no gol já!
E, por favor, mudem a ordem na lista dos colunistas que sai publicada todos os dias na edição impressa no caderno da Copa. Por que as mulheres estão sempre no final? Proponho a ordem alfabética —invertida, claro, para não dizerem que advogo em causa própria.
Jornalismo é procurar as pontas soltas. De nada, editores, por corrigirem esse deslize tão revelador. ;-)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.