Ana Estela de Sousa Pinto

É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

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Ana Estela de Sousa Pinto
Descrição de chapéu Tóquio 2020 União Europeia

Se fosse uma equipe, União Europeia seria imbatível nos Jogos

Carta de autoridade do bloco europeu assanhou jornalistas com ideia de promover time único com os 27 países

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Quando a tocha destas Olimpíadas partiu de Olympia, na Grécia, em março do ano passado, foi um grego de grossas sobrancelhas negras a terceira pessoa a segurá-la.

Nesta semana, dias antes de o fogo acender a pira no Japão, esse mesmo grego, Margaritis Schinas, tentou dar um novo passo na história olímpica: fazer desfilar na cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio a bandeira da União Europeia.

Schinas é vice-presidente da Comissão Europeia (o Poder Executivo do bloco), responsável por Modo de Vida —em cujo guarda-chuva estão esportes, cultura, religião, imigração, segurança, saúde e diversidade. O pedido foi feito ao Comitê Olímpico Internacional (COI) no último domingo (18).

Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia, durante entrevista na sede da UE em Bruxelas, Bélgica - Kenzo Tribouillard/AFP

Imediatamente, jornalistas em Bruxelas se assanharam com a ideia de que a Comissão tenha entre seus planos promover um time único, reunindo seus 27 membros, em competições internacionais.

Não seria uma hipótese tão maluca, principalmente depois que a pandemia empurrou o bloco para um novo patamar de integração: o endividamento comum, para financiar a juros mais baixos a reconstrução dos países menos ricos.

Com uma equipe conjunta, a UE seria imbatível, a julgar pelos resultados no Rio, em 2016 —mesmo sem contar os atletas britânicos, que há cinco anos ainda faziam parte do bloco europeu.

Mais da metade (16) das atuais 27 nações da UE trouxe do Brasil pelo menos uma medalha de ouro, somando 79 —33 a mais que as conquistadas pelos Estados Unidos, que ocuparam o topo do ranking.

Incluídos pratas e bronzes, só quatro integrantes da UE —a Letônia e os pequenos Luxemburgo, Malta e Chipre— não subiram ao pódio. Em esportes individuais e coletivos, o bloco recebeu um total de 257 medalhas, mais que o dobro das 121 americanas.

O time reuniria o número 3 do tênis masculino, Rafael Nadal, da Espanha, a atletas que arrebataram o ouro de brasileiros na última edição, como o grego Eleftherios Petrounias, das argolas, e a dupla feminina alemã de vôlei de praia Laura Ludwig e Kira Walkenhorst.

Teria os fortes judocas franceses, nadadores húngaros, atiradores italianos, remadores da Alemanha —a maior potência do bloco, com 17 ouros, 10 pratas e 15 bronzes no Rio. No handebol, a Dinamarca meteria medo, no badminton seriam os espanhóis; no vôlei e no futebol sobrariam candidatos.

A ideia atiçou tanto os repórteres porque, como tudo o que envolve a UE, levanta questões sobre identidades nacionais —quando viram puro nacionalismo?— e integração —qual o custo-benefício da escala e da sinergia?

É verdade que cada país da UE manda em sua política esportiva, mas a Comissão repassa fundos para vários programas da área. Além disso, com décadas de funcionamento do mercado comum europeu, já é quase impossível estimar quais seriam os destinos individuais de cada membro da UE se não integrassem o maior bloco econômico do mundo.

Claro que a chuva de medalhas só viria sob os critérios atuais de seleção de atletas, e alterá-los abriria toda uma nova briga. Além disso, a justificativa de Schinas dá outras pistas de por que uma equipe única, se um dia for proposta, levará outras décadas para vingar.

Na carta ao COI, o político defendeu que a bandeira azul com 12 estrelas em círculo seria “um símbolo de coexistência pacífica, tolerância e solidariedade”.

Investidas da Hungria contra direitos LGBT+, decisões polonesas anti-independência do Judiciário, ataques à mídia do próprio premiê esloveno, Janez Jansa, e vários episódios de recusa a imigrantes são algumas das demonstrações recentes de coexistência não pacífica, intolerância e falta de solidariedade dentro do bloco.

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