Domingo de eleição na Alemanha, "Jardins da Cerveja".
Casais almoçam linguiça e fritas ao som da dupla Die Zwoa Spitzbuam, de trajes e canções folclóricos.
O cantor avisa: "Monika faz anos! Vamos cantar parabéns".
Monika, mais de 60, cabelos alaranjados um tom abaixo da camiseta cor de abóbora de mangas longas, parece mais perdida que contente; pisca por trás dos óculos, sem sorrir.
Estamos em Hassloch, um povoado especial. Aqui os novos produtos chegam antes de a qualquer outra cidade alemã.
Se Monika —seus amigos, vizinhos, clientes ou patrões— gostarem, o sinal verde é geral. Se virarem o polegar para baixo, o projeto pode embolorar na gaveta.
Os compradores usam um código de barras, que gera dados, que a maior empresa de estudos de mercado do país, a GfK, analisa. Suas conclusões embasam os lançamentos.
Por que Hassloch? O que há de especial nessa terra de 20 mil almas onde um sapo salta à frente de quem caminha para a hospedaria, e a indústria metalúrgica comemora ter fabricado "a primeira lata de meio litro de cerveja da história do país"?
"Este local apresenta uma estrutura populacional que se aproxima da média alemã, na sua estrutura etária e de classes sociais, e é um meio termo entre uma aldeia e uma cidade", diz a explicação.
É só isso? E eu que achava que os desejos num lugar assim pacato, de desemprego baixo e povo quase todo branco, diferissem dos da mesclada e problemática Gelsenkirchen, onde a renda é a menor do país.
Ou que as necessidades de quem jamais pega um ônibus (porque eles nem existem) não fizessem sentido numa metrópole como Berlim e seus 330 km de trilhos de S-Bahns e U-Bahns. Etc., e tanto mais.
Descobrir que as multinacionais, que não dão ponto sem nó, estão seguras de que Nils, em Hamburgo, e Edda, na Baviera, vão comprar um detergente porque Monika aprovou faz pensar sobre quão banais e suscetíveis somos os consumidores.
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