Anderson França

É escritor e roteirista; carioca do subúrbio do Rio e evangélico, é autor de "Rio em Shamas" (ed. Objetiva) e empreendedor social, fundador da Universidade da Correria, escola de afroempreendedores populares.

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Anderson França

Ninguém trepa mais, nem direita, nem esquerda

Fiquei achando que era sacanagem quando me mandaram mensagem da Folha pedindo pra eu ser colunista

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Eu poderia falar de grandes assuntos nacionais. Nossa, muito.

Mas eu só quero refletir sobre três assuntos que estão tornando minha vida uma desgraça, a saber: a necessidade da meinha e da suruba recreativa em tempos de opressão; o LinkedIn enquanto ambiente de fofocaiada do caralho e experiências profissionais que você só teve no campo da fantasia; e, por último, a tampa do iogurte.

A tampa do iogurte que revela, ao mesmo tempo, um privilégio —pra quem abre um pote de iogurte— e uma sutil muquiranagem do capital que perpassa todas as fronteiras, erodindo as camadas de nossa esmagadora ingenuidade que ainda anseia por um mundo melhor, mesmo com o quilo da alcatra já custando quase 45 merréis, nas melhores casas do ramo.

Amiga, eu sei. Você esperava mais de mim. Indicado pro Jabuti no livro de estreia, garoto-marotagem de Madureira e Vila Aliança, abalou milhões de leitores com crônicas pitorescas e safadas naquela rede social sobre a qual não está muito claro se posso citar o nome, e logo numa coluna de estreia.

Tem que fazer uma barba, usar uma cueca, se não nova, ao menos limpa. Acontece, amiga, é que aqui todo dia é uma estreia. Tô nessa de escrever pra massa ignara há alguns anos, and believe me: não vale a pena fazer a barba pra esses ingratos. Temos que receber leitores de moletom sujo de macarrão e descalço, Crocs é pra ocasião especial. Assim você já decepciona enquanto pessoa, já te evitam na rua, porque SABEM que eu vou pedir dez conto emprestado. Eu devo tanto que o SPC tem um departamento inteiro chamado “Anderson França”.

Cê sabe disso, né. Os cara se chamava de “imortal” na ABL na pilhéria, porque eles não tinham onde cair morto. Quer ser escritor? Deva muito dinheiro. Fracasse nas renegociações. Pimba. Temos um novo Machado de Assis.

Aliás, tinha feirão de renegociação que eu só ia pra sair com o papel na mão e o nome limpo por mais uma semana. Em 28 anos de vida adulta, só tive nome limpo por 2 anos e meio. Sou mesmo teu exemplo?

Eu não acredito em mim, mocidade naif. Até fiquei achando que era sacanagem quando me mandaram mensagem da Folha pedindo pra eu ser colunista. Na real, enquanto eu não vir esse texto publicado, ainda vou ficar numa de terror.

Anderson França, evangélico e do subúrbio carioca, novo colunista da Folha - Alfredo Brant/Folhapres

Quando aparece aqueles post do jovem místico pra se afastar de pessoa tóxica é de mim que eles tão falando. Meu nível de toxidade pros ciranda da Vila Madalena é de explodir o Infelizômetro deles. Eu não ligo mais, sagitariano cai a Babilônia, ele vai junto abraçado com o Louro José bebendo até a última mamada de Amarula, pra cair na esquina da Rua Aurora com São João às quatro da manhã, super família brasileira, recomendo.

De modo que o que o Espírito de Deus colocou no meu coraçãozíneo pra falar pra igreja hoje é: só quem tá trepando no Brasil hoje é o Lula, que saiu cheio de tesão na Janja. Ninguém trepa mais, nem direita, nem esquerda.

Eu já disse isso tantas vezes: a esquerda coroa tá desesperada com 2020, e essa juventude DCE que tatua Frida no braço, tatua umas planta, vira vegana, aprende a escrever sem opressão de gxnxrx, é poser.

Estética-instagram-de-rebeldia, paga de moderna, mas não faz umas suruba cavernosa, geral suando, amontoado num sofá cheio de sífilis e incertezas de futuro, num motel que só venda Coca-Cola de 2 litro e caixa com salgadinhos diversos. Como essa esquerda assexuada vai mudar o país? Responde, Ciro, tu que tem resposta pra tudo. Agora eu tô na Folha. Exijo respostas.

Eu amo o Nuno Leal Maia e a Matilde Mastrangi, porque qualquer AI-5 eles ia lá e fazia um filme de 40 minutos de sexo decadente com roteiro merda, áudio totalmente descolado da imagem e várias genitais cabeludas. A pornochanchada é a única coisa que vai nos manter vivos nesse período. E hoje temos mais recursos que eles, portanto, a nossa vida poderia ser um grande filme sem hora pra acabar ou até durar o rolo de papel higiênico.

Ninguém me convence de que essa direita goze, tanto quanto ninguém me convence de que essa esquerda jovem tenha fuselagem pra um swing na beira da piscina, domingo, ouvindo Péricles, enchendo o rabo no litrão e altas linguiças.

A direita brasileira se resume a debater uma suposta e deliciosa galinhagem de bastidores —quem levantou a saia dentro do gabinete, quem foi ou não puta na Espanha. Joice, na CPMI das Fake, mostrou que nós estamos entregue nas mãos de um grupo de pessoas que saíram de um churrasco em Magé e botaram o tiozão do carvão na presidência. Amigo oculto desse povo, eu quero ver quem vai tirar o Magno Malta.

Avisem, porque ele tá esperando.

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