Anderson França

É escritor e roteirista; carioca do subúrbio do Rio e evangélico, é autor de "Rio em Shamas" (ed. Objetiva) e empreendedor social, fundador da Universidade da Correria, escola de afroempreendedores populares.

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Enquanto acontece a pandemia do coronavírus, famosas fazem faxina

Blogueiras e atrizes aproveitam isolamento social para limpar a casa e postar nas redes sociais

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Quando acontece uma catástrofe mundial, celebridades saem dos escombros para fazer faxina.

Poderiam fazer uma grande campanha para arrecadar fundos. Mas preferem arear panela e passar flanela no rack da TV.

Aliás, este não seria um indicador de que estamos em crise econômica? Se as madames estão indo para a faxina, das duas, uma: não têm mais dinheiro para pagar a faxineira ou a faxineira está impossibilitada de vir por causa de um poderoso motivo de ordem global.

Porque eu conheço amiga faxineira que teve trigêmeos de manhã e à tarde foi para a casa da madame no Jardim Botânico limpar os brinquedos do Enzo João. O filho desses bacanas progressistas, seja do Novo, ou PSOL, não é apenas Enzo, tem um produto nacional, um João, ou Pedro. Nome composto, até mesmo João Pedro, assim, junto. Ficará lindo daqui 16 anos, no primeiro álbum de músicas para ouvir com smoothie de Rivotril.

Eu confesso que joguei meu celular pelo asfalto, ataquei longe, no momento em que uma amiga de Icaraí, em Niterói, me mandou uma publicação da Maitê Proença dizendo que aproveitou o confinamento para fazer faxina.

E quando ela me mandou da Adriane Galisteu mostrando as bolhas nos dedinhos de tanta faxina que fez em casa (limpando a mesa de centro com um Perfex), fui à cozinha, peguei uma faca de manteiga, cortei meu abdômen e arranquei o baço.

Agora, estou falando com vocês acessando à internet com o meu baço, que conectei ao wi-fi.

Assim, se passar por mais uma raiva dessas, jogarei o baço fora, depois o fígado, e depois morro para não ver a Isis Valverde decidir fritar um ovo, o que é, sem dúvida, um atentado aos direitos humanos, além do fato destes serem os sinais dos tempos.

Porque eu estou agarrando a inveja no confinamento das blogueiras e celebridades.

As pessoas famosas não confinam, sabatizam. Brilham na chegada do ano da lua geral se fodendo, a bonita sendo uma fruta madura no cacho cósmico desse hortifruti espiritual sistêmico, constelação familiar.

Num dia, a blogueira sobe ao coqueiro, desce, pega luz do sol (no quintal do tamanho do estádio do Macaranã), cozinha risotinho vegano, anda de skate de biquíni na sala (pense no tamanho da sala), cria atividades lúdicas inéditas com as crianças e seus brinquedos Waldorf, faz ioga, trepa pela casa inteira com o marido e os dois amantes, bebe uma taça de vinho branco, vai à banheira relaxar, e faz live à noite tocando ukulele. Amigo, é muita dor junta.

Blogueira não usa máscara, não adoece, não caga, não mija, não tosse e não espirra. Blogueira transcende como o ar e merchandising de creme de babosa.

Parece que atrizes e blogueiras tiraram a crise para enxergar nisso a oportunidade de dar uma última debochada da sociedade. E nós estamos indo pelo ralo, vendo #tbt de lugares que nunca poderemos ir, seja porque não temos grana ou porque agora o mundo está acabando mesmo, e só terá cisne falso nos canais de Veneza.

No melhor estilo "crise-oportunidade", hoje um ladrão tentou "dar a elza" num vagão de trem do Rio de Janeiro. Está lá, confinado, olha para carteira: zero reais. Como no Rio de Janeiro o confinamento não pegou, nem com o Comando Vermelho e o Witzel mandando o povo ficar em casa, bora robar.

Mas ele tomou cacete do povo no vagão. O povo quebrador de confinamento. Se não quebrou costela, terá que ficar atento, porque escolheu roubar exatamente num período em que nem os maiores ladrões do mercado, os bancos, estão funcionando.

E você, bonita ou bonito, pare de tornar o confinamento o teu novo blog. Daqui a pouco é foto de máscara fazendo exercício pros glúteos, com o "Salmo 91" como legenda.

Aproveite o momento de audiência para ir à coluna da semana passada e contribuir com os projetos de periferia que estão precisando de dinheiro.

O mês vira amanhã. Que a democracia ainda resista, e que num futuro próximo, o confinamento nos porões da história seja apenas de uma certa pessoa, que ocupa um certo cargo público.

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