Angela Alonso

Professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Bruno Covas, João Campos, Marília Arraes beberam todos o mesmo leite da política

Juventude e renovação não são a mesma coisa, embora, nesta eleição, passassem como se fossem

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Juventude e renovação não são a mesma coisa, embora, nesta eleição, passassem como se fossem. Os jovens encantaram com aquele seu viço, o entusiasmo, o idealismo, que na geração calejada já virou cansaço, tarimba, pragmatismo. Claro, há os “forever youngers”, que não perdem a ternura, como Erundina e Suplicy, como há casmurros de poucas velinhas, caso de Eduardo Leite.

Da pouca idade não se segue muita renovação. Lideranças jovens, nas casas dos 20 aos 40, saíram das urnas fortificados, uns com mandato, outros com cacife. Seus nomes ecoam pelo país como componentes da legião dos destinados a nos governar nas próximas décadas.

A classificação rotineira se orienta pela cerca ideológica, pondo os novos cada qual para dentro de uma porteira: a da esquerda, a da direita, e a sempre aberta ao centro. Este critério, porém, empana outra clivagem, a de trajetórias sociais.

Arranjando os nomes da vez por este olho, a organização fica diferente. Bruno Covas, João Campos, Marília Arraes beberam todos o mesmo leite da política quando criancinhas. Nasceram em clãs de políticos profissionais.

Educados para o mando, herdaram estilos, símbolos, aliados, bandeiras. Cresceram imersos em rede de parentes, amigos, padrinhos, que lhes transmitiram laços sociais, recursos financeiros e habilidades políticas. Construíram-se como personas públicas por osmose.

Nada acidental que Marília e João sejam primos. Uma enorme teia de parentela, desde os tempos do Império, ocupa os postos altos nos partidos, como no Estado. Deste ângulo, a atual floração das linhagens Covas, Campos, Arraes nasce no mesmo terreno fértil que, nos anos 1990, deu Luís Eduardo Magalhães, Fernando Collor, Aécio Neves, Roseana Sarney. Todos, então, também saudados como novidades.

Quem tem este gênero de trajetória política, a dos estabelecidos, pode brigar à vontade, errar à vontade, pois contará sempre com este patrimônio inalienável: o nome.

Outro tipo de trajetória é o dos que não nasceram políticos, tornaram-se. No Brasil, como na França, que nossa esquerda tanto aprecia, as escolas superiores são celeiros de políticos. Aqui, os cursos públicos de engenharia e os de humanas, desde que criados, são produtores regulares de políticos profissionais.

Os líderes recentemente despontando à esquerda, Fernando Haddad, Manuela d’Ávila, Guilherme Boulos, surgiram nesse terreno, não brotaram de famílias dominantes em partidos.

Seu patrimônio é outro. Em vez do sangue, o treino. Seja o retórico, que os cursos universitários de humanas começam e o hábito de discursar todo dia, por anos, lapida. Seja o aprendizado de técnicas de mobilização social no campo movimentista, a começar pelo movimento estudantil.

Nos anos de formação, em colégios particulares e em humanidades das universidades públicas, construíram teia de amigos e conhecidos, garantidora da imersão nas redes intelectuais e artísticas que dominam os meios cultos do país e que lhes valerá por toda a vida.

As duas teias sociais são tão antigas quanto efetivas. De neófitos os novos líderes não têm nada. São sucedâneos jovens de provectos parecidos.

Mas, por mais que, na barba e na verve, Boulos emule Lula, nem ganhou nos estratos baixos, nem veio deles. Nenhum dos líderes emergentes pode ostentar o enraizamento no subsolo da sociedade.

Por mais que o PT esteja combalido, neste quesito, ninguém da nova geração se compara a seu líder, ídolo e problema. Lula veio de lá de onde nenhum dos triunfantes ou promissores é oriundo. Segue sem substituto.

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