Antonia Pellegrino e Manoela Miklos

Antonia é escritora e roteirista. Manoela é assistente especial do Programa para a América Latina da Open Society Foundations. Feministas, editam o blog #AgoraÉQueSãoElas.

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Antonia Pellegrino e Manoela Miklos

#AgoraÉQueSãoElas

Quem insiste em ignorar importância da diversidade vem pagando preços altos

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Flash back necessário pra 2015, quando a paisagem era a seguinte: nós, em marcha, por todo o país contra o PL de Cunha que pretendia nos tirar os poucos direitos reprodutivos que temos. Nas redes, uma catarse coletiva: rompíamos o silêncio e compartilhávamos histórias de assédio.

Naquele momento, incomodava profundamente a ausência de mulheres nos espaços de poder. Dentre esses espaços, estava este onde você nos lê agora.

Num mundo em que a desinformação determina como compreendemos o passado, como agimos no presente e como imaginamos o futuro, falar das suas agendas sem mediação é um poder tremendo.

Foi em busca de um novo normal e do direito de narrá-lo que nos reunimos, em 2015. Numa articulação autônoma, independente, tomamos a palavra. Decidimos ocupar seus espaços de fala, hackear os meios de comunicação e nos fazer ouvir.

Durante a semana de ação #AgoraÉQueSãoElas, milhares de colunas e blogs assinados por homens foram ocupados por mulheres. Nossa estratégia de guerrilha foi desenhada para surpreender. Ignoramos as editorias e partimos, com o auxílio luxuoso de muitas companheiras, para o convencimento de colunistas, cronistas e jornalistas. Convidamos todos a se calar e ceder seu espaço para uma mulher. As redações nos telefonavam assustadas a cada artigo que chegava pelas mãos de um colunista homem assinado por uma mulher.

O resultado foi impressionante: 65 milhões de menções no Twitter, bancada do Jornal Nacional ocupada por duas mulheres. Um tsunami de vozes femininas, que em coro, disseram: o corpo é nosso e a narrativa sobre a luta por liberdade e igualdade também tem que ser.

Daí nasceu o blog #AgoraÉQueSãoElas, hospedado por esta Folha. Uma ferramenta sonhada para dar visibilidade às mulheres em movimento. Sob nossa curadoria, o blog narrou histórias femininas e feministas que não eram acolhidas em outros espaços. Pautou diversas vezes o debate público. Inauguramos o blog com o manifesto escrito pelas ativistas feministas negras Djamila e Stephanie Ribeiro que escancarou o racismo que residia na figura da “mulata globeleza”. Um ano depois, a vinheta do carnaval da Globo mudou e a mulher negra hiperssexualizada foi substituída por várias mulheres de regiões diferentes do país, dançando diferentes ritmos belíssimamente vestidas. Em 2017, publicamos a denúncia de assédio da figurinista Su Tonani contra o ator José Mayer e capitaneamos a reação ao fato. O episódio, o #metoo brasileiro, operou mudanças culturais profundas.  Por essas e outras, nosso blog se tornou uma referência para os feminismos, do pop à universidade, do mainstream aos movimentos sociais.

Essa trajetória nos trouxe até aqui, às páginas do jornal impresso, de onde nos despedimos hoje. Agora a paisagem é a seguinte: temos mais mulheres ocupando espaços de poder. Os que insistem em ignorar a importância da diversidade, imperativo irreversível, vem pagando preços altos. As redações estão a anos-luz de onde estavam em 2015. Esta Folha agora têm até editoria de Diversidade, nas mãos da talentosa Paula Cesarino Costa. Tudo isso era impensável há poucos anos. Temos orgulho de ter dado nossa contribuição para essa nova paisagem.

Seguiremos no blog #AgoraÉQueSãoElas. Os tempos brutos nos negam o descanso. O desabamento da agenda progressista pede que sigamos. O governo perverso nos confunde, bagunça as prioridades, nos obriga a pedir desculpas à Brigitte Macron ao invés de lutar por igualdade para as que convivem com a precariedade e a violência. Não podemos parar. Não queremos parar. Não iremos parar.

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