Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Selic juros

Banco Central

É difícil acomodar gregos e troianos quando Zeus decide se divertir com os arrogantes mortais

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O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em Brasília
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters

A recente decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa Selic em 6,5% mostra como é difícil acomodar gregos e troianos quando Zeus decide se divertir com os arrogantes mortais aumentando a imprevisibilidade sobre as circunstâncias que os envolvem.

Há poucos dias (em 8 de maio), o competente Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, mostrou ao “mercado” um quadro relativamente tranquilo. 

Ele chamou a atenção para os dois fatores importantes na “regra” que intuitivamente determina a taxa de juros básica do regime de “metas de inflação” que utilizamos há quase duas décadas: (1) a expectativa da taxa de inflação está bem ancorada e há quase um ano abaixo do limite inferior da “meta”; e (2) o ritmo fraco da atividade com um alto desemprego. 

Isso sugeria pelo menos mais uma redução de 0,25% da taxa Selic.

O que aconteceu na última semana? Zeus decidiu entreter-se. Criou mais confusão: perspectiva de aumento da taxa de juros nos EUA e a consequente tendência à valorização do dólar, o aumento das tensões políticas no Oriente Médio, a elevação dos preços das matérias-primas, particularmente do petróleo etc. 

Os primeiros resultados foram a desvalorização das moedas dos países emergentes e um aumento do pessimismo sobre a qualidade da ancoragem da expectativa inflacionária, o que suspendeu a redução dos juros.

Zeus atingiu o seu intento. Fez com que os dois (o Banco Central e o “mercado”) tivessem, cada um a seu modo, alguma razão. Encerrou-se a “lua de mel” entre o mercado financeiro, que se sentiu traído, e o competente Banco Central, que até então tinha se comunicado amigavelmente com ele. 

O resultado final dessa melódia é que a curva de juros se deslocou para cima, elevando-se no curto e longo prazo. A taxa de câmbio não perdeu o seu ímpeto e a bolsa revelou uma queda importante. O mercado sancionou, a posteriori, o novo ambiente de maior risco que levou o Banco Central à postura mais conservadora.

Tenho a impressão de que o Banco Central avaliou adequadamente a enorme incerteza que cerca a economia mundial (a despeito do seu crescimento) e, particularmente, a economia brasileira, diante do nosso pavoroso quadro fiscal.

Quanto à taxa de câmbio, o encurtamento da distância entre a taxa de juro externa, somada ao risco Brasil, e a taxa de juro interna (que desestimula o “carry trade”) é a favor de um crescimento mais equilibrado no longo prazo. 

O Banco Central tem que usar a sua artilharia apenas para reduzir os efeitos sobre o câmbio da saída do capital especulativo que nos frequentava, não para fixá-lo.

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