Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Esperança

Mal-estar revelado pelo Datafolha é muito grave e deveria merecer a atenção de candidatos

No mês passado, o conceituado Datafolha promoveu uma pesquisa muito interessante cujos resultados são mais do que preocupantes. Deveriam merecer muita atenção dos profissionais que estão preparando os programas de governo de todos os candidatos à Presidência da República, pois um deles receberá, por maioria absoluta, no segundo turno da eleição, a dura missão de realizar os desejos de todos os brasileiros.

Lembremos o que diz o Livrinho (artigo 1º, parágrafo único) ao qual todos os administradores do Estado (eleitos, concursados ou escolhidos) serão obedientes: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 

Quem será o único representante eleito majoritariamente pelo povo no processo eleitoral? Sua excelência o presidente da República, que representará por definição e por um período bem definido o “povo”, controlado, ele também, pela Constituição. Mas aqui começa a encrenca! 

É grave equívoco pensar que o sistema democrático é o melhor de todos porque o povo é portador de um saber virtuoso que explicita no seu voto. Não!

Ele é melhor do que todos os outros porque os erros de hoje podem ser corrigidos pelos acertos de amanhã, num regime de respeito à lei, à plena liberdade individual e à pacífica alternância do poder em prazo certo. O “povo” é, em geral, curto-prazista, propenso a aceitar a mágica que lhe vende o “lago azul com água quente” sem nenhum custo. 

Nunca foi tão necessário a um candidato à Presidência da República manifestar-se claramente contra o desejo do povo revelado na pesquisa Datafolha mencionada acima. Cerca de 70 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais afirmaram que, se pudessem, iriam embora do Brasil.

Talvez seja apenas uma manifestação do desencanto passageiro que se abateu sobre a nação como resultado do desastrado final do primeiro mandato da presidente Dilma, coroado pelo vale-tudo eleitoral, combinado com sua clara aversão ao exercício da política. 

O mal-estar revelado é, entretanto, muito grave. À pergunta: “Se pudesse, mudaria de país?”, 43% responderam sim. E o que é pior, o “futuro”, isto é, entre jovens de 16 a 24 anos, 62% responderam afirmativamente. E entre aqueles a quem a nação deu a oportunidade de uma educação superior (ou seja, investiu neles para que a ajudassem no futuro), 56% estão dispostos a abandoná-la...

Todos os candidatos devem propor programas críveis e hones tos para devolver aos brasileiros a esperança perdida. Lembremo-nos que o desenvolvimento social e econômico é, antes de tudo, um “estado de espírito”, exatamente o que nos foi subtraído nos últimos anos.

 
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