Foram duas semanas preocupantes. A discussão sobre o que originou o problema dos caminhoneiros dividiu os economistas.
Alguns apontaram a oferta: o excesso de caminhões comprados pelo setor privado sob o estímulo de um programa muito generoso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para atender às montadoras em 2009.
Outros insistiram na redução da demanda global (resultado da dramática queda de 7% do PIB entre 2014-2016, no governo Dilma) que deixou 13 milhões de desempregados.
É claro que as duas lâminas da tesoura (oferta e procura) tiveram seu papel. Foi, entretanto, obra perfeita e acabada do voluntarismo de governos que buscam apoio no “curtoprazismo” da população, aquele que alimenta o populismo.
É preciso, aliás, aliviar a culpa de Dilma. Ela não errou sozinha. Atingiu o máximo de seus erros quando tinha o máximo de aprovação popular. Só foi abandonada quando chegou a conta! É ridículo, portanto, atribuir o problema ao governo Temer, mas deveria ter sido antecipado e recebido uma resposta adequada.
O estabelecimento de cada frete é extremamente pormenorizado e complexo. Envolve todas as condições do transporte: a distância, a natureza da carga, sua quantidade, os riscos, o tempo, a sazonalidade, a qualidade do caminho etc. É impossível fazê-lo por tabelas.
O frete médio do mercado é apenas uma ilusão referencial: cada carga tem o seu frete! Como o excesso de oferta vai continuar, suspeito que nenhuma tabela resistirá à negociação. Ela vigorará apenas no “passeio das mercadorias” pagas pela Conab e, temo, com um formidável estímulo à corrupção.
A solução para que a soma de erros sucessivos seja ultrapassada seria ou um aumento da demanda global (a volta imediata de vigoroso crescimento do PIB, o que tem probabilidade nula) ou deixar o mercado fazer o ajuste do patrimônio, para que o valor original do estoque de capital (os caminhões), que não é hoje rentável, o seja quando for transferido para outros caminhoneiros pelo seu valor atual.
O caminhão que custou cem no programa do BNDES deixou de ser rentável porque as condições mudaram muito. Hoje, só vale, de fato, o que alguém se disporia a pagar para comprá-lo, uma vez que o valor atual de um caminhão é a soma dos benefícios anuais líquidos que produzirá durante o resto de sua vida útil, descontados pela taxa de retorno oferecida pelo mercado.
A importante diferença entre os projetos “sonháticos” do governo e os do setor privado é clara. Nos do governo, como ele não produz nada, o prejuízo é empurrado para toda a sociedade (é socializado!). Nos do setor privado, é pago por quem sonhou e correu o risco...
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