Quando olhamos o quadro brasileiro e o grande problema para administrá-lo, podemos distinguir quatro generosas atitudes que tornam sua solução muito complicada:
1) uma separação profunda entre os desejos verbalizados e as propostas concretas para realizá-los. Em geral, propõe-se um desenvolvimento econômico robusto, equânime e sustentável, mas as propostas para realizá-lo limitam-se à receita genérica: aumentar a produtividade do trabalho. Transforma-se, assim, uma tautologia (pois, por definição, “desenvolvimento econômico” é apenas o outro nome do “aumento da produtividade do trabalho”) num programa de governo;
2) uma paixão ideológica, que se pensa de esquerda e faz muito barulho, garante ter a fórmula para o desenvolvimento sem sacrifício porque “a firme vontade política pode superar qualquer obstáculo”;
3) um profundo (e bem-vindo) respeito ao “politicamente correto”, às vezes, infelizmente, levado ao paroxismo: recusa-se a reconhecer que dois mais dois são quatro, porque teme-se produzir um complexo de inferioridade no número três acompanhado, frequentemente, de;
4) uma revolta contra a aritmética que impõe uma absurda “injustiça social”: neste mundo de Deus, a soma das partes do PIB não pode ser maior do que o todo.
Este é o aspecto mais dramático da nossa crise social, econômica e política. A produção de bens e serviços realizada a cada ano pela coletividade é finita e, não importa qual seja sua distribuição alternativa, não é possível, fisicamente, superá-la!
O problema é que todos querem aumentar a sua participação no PIB: (1) o governo quer aumentar a carga tributária; (2) os empresários querem maiores lucros; (3) os trabalhadores querem maiores salários.
Todos têm razão. De fato, precisamos de maior investimento público (e de cortes das despesas correntes), de maior investimento privado financiado por maior lucro e de maior salário para garantir a demanda global que sustenta e amplia o circuito produtivo.
Mas todos não podem, fisicamente, ter razão ao mesmo tempo. Se essas demandas (justíssimas!) não forem acomodadas e compatibilizadas pelo exercício livre e inteligente da política, o resultado não será mais desenvolvimento, mas apenas maior inflação e maior déficit em conta corrente. Isso tem sido demonstrado nos nacionalismos “populistas” que sempre terminam muito mal.
O nacionalismo verdadeiro é a paciência de denunciar o impossível e convencer a sociedade de que só pelo exercício da política num regime democrático será viável encontrar um caminho mais “justo” para o desenvolvimento com liberdade, o verdadeiro objetivo da sociedade “civilizada”.
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