Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto
Descrição de chapéu Eleições 2018

Agora, a lei

Só resta ao vencedor das eleições ser escravo das regras

Terminada a eleição, vimos o homem como ele é, despido da romântica “humanidade” moral que lhe atribuímos. Vivemos tempos normais. Trata-se de um animal territorial, dotado pela seleção natural de um terrível e perigoso instrumento —a inteligência. 

Com ela, submeteu a natureza que o criou e inventou sofisticados preconceitos para separar-se em tribos, que se veem com desconfiança dentro e fora dos limites do “território” e estabelecem o seu domínio. 

Tal sentimento é tão poderoso que, frequentemente, ele é capaz de sacrificar a única coisa de que, efetivamente, dispõe —a própria vida— para defendê-lo da cobiça real ou imaginária de outras tribos internas ou externas.

Pesquisas antropológicas recentes acumulam, cada vez mais, evidências de que só o homem é capaz de, em nome de crenças sem nenhum suporte factual, desenvolver poderosas “teorias” para justificar os mais pavorosos massacres de membros de sua espécie, quando os “põem” em outras tribos: começa com o “nós ou eles”. 

A história revela, também, outra faceta da “natureza” do homem. Ainda que menos frequente, ele dá demonstração de altruísmo. Somos, assim, diariamente testemunhas de que o homem é “humano”, tanto quando “mata” como quando consola o “outro” de sua espécie.

O mundo é cruel e, provavelmente, continuará a sê-lo até que a espécie humana se extinga pelo exercício imoderado do poder que a tecnologia colocou nas suas mãos ou se eduque para reprimi-lo. 

 

A história dos homens e de seu sucesso como espécie resume-se na descoberta de que a cooperação (a divisão do trabalho) entre eles e a cristalização do trabalho passado na forma de bens intermediários de produção aumentam a produtividade do trabalho vivo.

É preciso introjetar uma verdade elementar e intransponível: não importa quão complexa seja a sociedade em que vivem, os indivíduos só terão mais bens e serviços à sua disposição à medida que crescer a produtividade média do seu trabalho na exploração da natureza, que é finita!

Na longa caminhada em que o homem construiu a si mesmo, ele acabou entendendo que só existe um meio eficaz de controlar o seu insaciável desejo de poder: a lei que sujeita a todos, produto de uma ética conveniente, aceita consensualmente para a comodidade, coesão e sobrevivência do grupo. 

Neste sentido, talvez seja a maior manifestação da inteligência do animal-homem, pois estabelece a igualdade onde a natureza estabeleceu a hierarquia do mais forte. Estabelece o respeito onde a natureza estabeleceu a submissão. 

Agora, depois da eleição, só resta ao vencedor ser escravo da lei, porque é ela que o libertará e permitirá a conciliação nacional.

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