Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto

Civilização

Eleição aprovou um Estado forte com legitimidade para quebrar a tragédia do 'mais do mesmo'

A sociedade civilizada exige instituições que garantam a plena liberdade individual, que mitiguem a desigualdade que ela tende a gerar e que sustentem um sistema produtivo eficiente. Todo cidadão deve gozar de liberdade e sentir-se confortável com a “igualdade de oportunidades” que ela lhe oferece. 

O ponto de partida dessa sociedade é “igualar a capacidade de apreensão do mundo” de todo cidadão: a partir de sua gestação e nos primeiros seis anos, deve haver cuidado com a sua saúde (atenção para a mãe e o nascido) e ser fornecida educação básica. A justiça social se fará na saída da corrida, não na chegada...

Não existem leis naturais que garantam a existência de tal sociedade. Ela será o resultado de um processo civilizatório que começou quando os homens dominaram a agricultura de subsistência, domesticaram alguns animais e se urbanizaram. 

Esse é o caminho que o homem vem construindo para si mesmo. Já andou mais do que 10 mil anos sem tê-lo ainda percorrido em sua plenitude. 

Temos aqui dois valores impostos (liberdade de iniciativa e igualdade de oportunidades) e um problema técnico: como conciliar a subsistência material de homens livres com a produção de outros homens livres? 

A grande “descoberta”, depois que a urbanização facilitou a divisão do trabalho, foram as “feiras”, onde cada um trocava o que produzia mais eficientemente pelos bens que desejava e que os outros produziam mais eficientemente. 

Nelas se estabeleciam as relações de equivalência entre os bens produzidos que harmonizavam, com liberdade, as ofertas e as procuras de todos, o que exigia um “poder” que garantisse a propriedade privada.

Talvez a grande contribuição dos economistas para o tal processo ao longo de milênios foi o permanente aperfeiçoamento revelado na sofisticação dos “mercados”, o que exige cada vez maior garantia da propriedade privada. 

O “poder” atualmente são os Estados. É por isso que não há contradição entre “mercado” e Estado. A igualdade de oportunidades é um valor imposto, que também depende de um Estado forte, capaz de realizá-la.

Creio que a eleição aprovou um Estado forte, constitucionalmente limitado, com legitimidade para quebrar a tragédia do “mais do mesmo” dos últimos 20 anos (a despeito do enfrentamento bem-sucedido da praga inflacionária) que produziu um crescimento per capita pífio: 1,1% ao ano! 

O programa econômico do presidente eleito, Jair Bolsonaro, comandado por Paulo Guedes, ameaça o Brasil com um grande avanço. Vamos dar-lhe um voto de confiança para libertar nossa economia do excesso de regulação ineficiente que a sufoca.

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