Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto

Para onde vamos na economia?

Crescimento não se materializa espontaneamente, sem adequadas condições objetivas

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Dizer que o crescimento econômico é um “estado de espírito”, não significa, obviamente, dizer que ele se materializa espontaneamente sem as adequadas condições objetivas.

De um lado, é necessário que haja disponibilidade apropriada de fatores de produção e incorporação de novas tecnologias. De outro, é preciso estabilidade macroeconômica e um governo que não iniba nem coloque entraves ao “espírito animal” dos empresários, que tomam o risco hoje para viabilizar o que antecipam como demanda futura.

A opacidade sobre o futuro próximo é areia na engrenagem do crescimento. O adiantamento do calendário eleitoral reforça a turbulência política em um ambiente já propício a incertezas. São quase dois anos imersos nas consequências da maior pandemia dos últimos cem anos, que, à parte as tragédias humana e sanitária, potencializou as agruras de um país com dificuldades, há de muito, em retomar a trajetória do crescimento inclusivo sustentado.

Os rumos necessários para a economia no curto prazo, vetor indispensável nesse ambiente, não foram apresentados de maneira clara e coerente até agora. Versões distintas dos mesmos projetos são apresentadas e desmentidas pelo menos duas vezes por semana há mais de um ano e meio, o que atrapalha a organização do sistema econômico, já que dificulta a construção dos cenários prováveis.

Apenas um dos exemplos: o necessário reforço ao programa Bolsa Família no contexto atual segue sendo uma incógnita, embora já se soubesse que seria necessário desde o começo do ano passado. Bolsonaro ameaçou com cartão vermelho técnicos que cogitaram a reformulação de programas existentes para acomodar um auxílio melhor, mais focalizado e mais eficiente. Desde então, perderam-se objetivos, estimativas de custeio e fontes factíveis de receita. Não se sabe mais como o programa será viabilizado, o que ele representa para o arcabouço fiscal vigente nem sequer quem ele pretende atender.

Tal expediente, que se arrasta, é preciso repetir, há mais de ano, engorda a cauda dos cenários adversos do ponto de vista fiscal, o que, por evidente, se reflete em preços como a taxa de câmbio, que se desvaloriza e reforça em magnitude a elevação do preço dos alimentos, dos combustíveis etc.

Mais do que isso, o estado permanente de incerteza sobre o que se pretende fazer e onde queremos estar ao final de 2022 murcha paulatinamente as expectativas de crescimento futuro, como temos visto.

Empresários postergam seus planos de investimentos, e os consumidores, seu consumo, levando à materialização de uma triste profecia autorrealizável.

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