Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Árvore é de esquerda

A semente germina sem permissão na propriedade de um cidadão de bem

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Ignorantes acusam Jair Bolsonaro de não se empenhar na aprovação da reforma da Previdência. Nem na formação de uma base parlamentar. Nem na condução do seu próprio governo. Ora, o capitão tem uma missão mais importante do que o prosaico governar: desmascarar os insuspeitos agentes comunistas-globalistas infiltrados entre nós.

Ilustração
Adams Carvalho/Folhapress

A árvore, por exemplo, agora sabemos, é de esquerda. A árvore é dona da terra em que vive? Não. A semente germina sem permissão na propriedade de um cidadão de bem que paga impostos e gera empregos. Árvore paga impostos? Não. Gera empregos? Não, a árvore fica o dia inteiro parada, sugando o solo e inviabilizando o direito de quem quer produzir. Ainda bem que temos o ministro Ricardo Salles: por tudo o que tem feito à frente da pasta do Meio Ambiente, podemos acreditar que está comprometido a acabar, em breve, com todas as árvores deste país.

Radar nas estradas: ideologia de gênero, tá ok? O cidadão de bem vem costurando a 150 km/h, vê o radar e baixa pra 80 km/h. Dali a pouco, emasculado, o cidadão já vai começar a fazer o quê? A dar pisca-pisca. Ui, pisquei! Daí pra engatar uma ré e aparecer de mãos dadas com um bigodudo é uma pisada na embreagem. Felizmente, o presidente vai acabar com essa viadagem de radar. (No passado, Bolsonaro disse que preferia um filho morto num acidente a um filho gay. Disse também que para o Brasil dar certo tinha que matar uns 30 mil. Talvez daqui a pouco ele atinja os dois objetivos numa canetada só. Coisa de gênio). 

Depois de desmascarar os criptoesquerdistas “árvore” e “radar”,parece redundante falar sobre cinema, arma óbvia do marxismo cultural. Não tão óbvias, contudo, são as táticas da súcia audiovisual, que merecem ser destrinchadas. Em 2018, para disfarçar anefasta ideologia de esquerda, os dissimulados cineastas fizeram com que os dez filmes brasileiros mais vistos fossem películas acima de qualquer suspeita: “Nada a Perder”, “Fala Sério, Mãe!”, “Os Farofeiros”, “Os Parças”, “Tudo Por um Popstar”, “Minha Vida em Marte”, “Detetives do Prédio Azul 2”,“ Uma Quase Dupla”, “O Candidato Honesto 2”e “Crô em Família”. Juntos, os filmes levaram 23.899.308 espectadores aos cinemas, geraram dezenas de milhares de empregos e bilhões — eu disse bi, bilhões — de reais. Tudo isso pra quê? Para criar uma cortina de fumaça e ocultar filmes como “O Processo”, mimimi “golpista”, “Ex-Pajé”, coitadismo “indiozista” e “Tinta Bruta”,“ gayzismo” puro. Tais obras degeneradas levaram ao cinema menos do que 1% do público dos top 10. Basta, no entanto, que um único jovem compre tais teses para que se justifique o fato de o TCU, alinhado com as visões de nosso “duce”, crítico sempiterno da mamata dos artistas com dinheiro do povo, ter parado a Ancine e cancelado, por tempo indeterminado, o cinema nacional.

Nem tudo, porém, é galope na cruzada do Cavalão. Nesta semana, Bolsonaro interrompeu a caça aos comunistas devido a um problema familiar. O filho Carlos, também conhecido como Tonho da Lua, enciumado por Mourão ter mais acesso do que ele aos playgrounds de Brasília, sequestrou a senha do Twitter presidencial. Em síndrome de abstinência, Bolsonaro saiu por aí castrando a juventude em propaganda de estatal e alertando o país sobre a ameaça da amputação peniana. Mais quixotesco do que o próprio Quixote, a bisonha figura parou de atacar moinhos de vento e agora os enxerga avançando sobre si, as pás giratórias ameaçando sua lança impotente.

Quem diria que eu teria saudades do Temer? Da Dilma? Ontem li “Collor” no jornal e juro, juro: senti um carinho.

Erramos: o texto foi alterado

Por erro de edição, a coluna foi publicada sem a última frase. O texto foi corrigido.

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