Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Bolão do novo normal

Em vez de tropeçarmos em especulações pseudo-sociológicas, apostemos

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Com as seringas das vacinas redentoras já despontando no horizonte, feito copas de árvores ao fim de uma longa jornada pelo deserto, voltamos às especulações sobre o famigerado novo normal.

(Perdoem o começo grandiloquente, mas a ocasião permite a pompa: imagina só quando essa joça acabar?) Eu não imagino. Quer dizer, imagino o tempo todo, mas não ouso arriscar qualquer previsão.

Uma bola de basquete feita de porcelana branca e pintada com arabescos azuis
Ilustração - Adams Carvalho

Se algo ficou claro neste raio de tonga do coronga do caburetê é que a humanidade não sabe patavinas sobre lhufas. Nem, suspeito, lhufas sobre patavinas. A maior potência da Terra chegou à Lua antes de garantir que, numa emergência, houvesse máscaras de proteção em número suficiente para médicos.

Organizamos plataformas globais de videogames online com mais eficiência do que nos planejamos para uma probabilíssima pandemia. Tenho a sensação de que se tivéssemos aplicado à fome da África metade da pesquisa e da grana investida no desenvolvimento do frasco high-tech do meu desodorante, o IDH da Somália seria igual ao da Suécia.

Para coroar, erramos desmesuradamente em todas as previsões de 2013 pra cá. Sugiro, portanto, no lugar de tropeçarmos em especulações pseudo-sociológicas, simplesmente abrirmos um bolão.

*

1. No que tange ao contato físico, depois que estivermos imunizados, as pessoas vão:

A) organizar surubas em parques públicos e praças de alimentação?
B) Andar por aí enroladas em Magicpack?
C) Fazer surubas enroladas em Magicpack?

2. Depois que estivermos imunizados, o cumprimento padrão será:

A) Um aceno, zero toque?
B) Um soquinho rápido?
C) Encoxada, mão na cintura, um passo de lambada e uma lambida na orelha? (No RJ serão duas lambidas e em BH, três, pra casar).

3. No que se refere ao cuidado com a saúde:

A) Frequentaremos academias e faremos detox pra compensar a jaca da quarentena?
B) Pizza passará a ser servida no almoço e feijoada no jantar —de segunda à sexta?
C) Andaremos por aí tipo Geraldão, um baseado e um cigarro na boca, um cachorro-quente em cada mão e uma seringa em cada braço?

4. Sobre as relações humanas, no pós-pandemia, pensaremos:

A) Que maravilha que acabou a quarentena! Agora vou visitar minha mãe, meu pai, meus avós e meus amigos como se não houvesse amanhã, “porque se você para-a-a-aaaaar pra pensar-a-a-aaaar/ Na verdade não há-á-á-áááá”.

B) Ai, que saco, agora não tem mais a desculpa da quarentena, eu vou ter que visitar minha mãe, meu pai, meus avós e meus amigos, amanhã?

C) Ninguém mais se verá. Seguiremos falando com o microfone mutado no Zoom e brigando nos grupos de Zap. E saindo dos grupos de Zap. E torcendo pra alguém falar: “volta, volta pro grupo de Zap! Isso não foi nada! É só treta normal de grupo de Zap!”.

Saco. Nada disso, na verdade, importa. Tô tergiversando. Fazendo piada pra não pensar no que realmente vai definir o nosso futuro. As eleições dos EUA, terça-feira, vão dar os rumos do império e sugerir se o mundo vai embicar de vez pro fundo do rio Tietê ou vai tentar começar a rastejar em direção à luz. Que tempos para se viver, amigos. Que tempos.​

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