Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino

Pandemia de Covid-19 escancara como mentiras matam

O poder da desinformação pode ser visto no movimento antivacina e no aumento de mortes por Covid nos EUA

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Esta semana, o presidente editou uma MP (medida provisória) que garante a poluição das redes sociais.

A "MP da liberdade de expressão" impede redes sociais de tirarem do ar ou limitarem o alcance de mentiras e desinformação. Para entender as consequências dessas mentiras em tempos de pandemia, basta olhar para a situação da Covid-19 nos Estados Unidos.

No dia 25 de agosto registramos duas transições importantes do Brasil em relação aos EUA na pandemia. Chegamos em quase 61% da população brasileira vacinada com pelo menos uma dose, o que supera a proporção de americanos na mesma situação. E passamos a registrar menos mortes diárias por Covid por milhões de habitantes. Isso não é coincidência, vacinas salvam muitas vidas.

Nos cruzamos em direção a destinos muito diferentes. Nosso atraso na vacinação se deve à sabotagem de vacinas eficazes pelo Ministério da Saúde, enquanto recebiam cambistas e promoviam tratamento precoce. Quando dermos a segunda dose para a maioria dos brasileiros, teremos uma proporção bem maior de pessoas completamente imunes aqui.

Os americanos empacaram em pouco mais de metade da população completamente imunizada por conta dos que hesitam ou não querem se vacinar —apesar das vacinas sobrando. Em março de 2021, enquanto o Brasil finalmente comprava 100 milhões de doses da Pfizer, os EUA já tinham comprado mais de 750 milhões de doses de vacinas. O suficiente para vacinarem toda a população adulta mais de 3 vezes —e já compraram mais.

De acordo com as redes de farmácia e de supermercados contratadas para distribuir vacinas no país, que não conta com um sistema único de saúde, pelo menos 15 milhões de doses de vacinas da Covid foram descartadas até agosto.

Quem gosta desse desperdício americano é a variante delta que tem nadado de braçada nos estados e nas regiões que concentram a maioria dos não vacinados, como Flórida, Carolina do Sul e Tennessee, onde voltam a faltar leitos de UTI. O país voltou a registrar mais de 1.500 mortes por Covid por dia por vários dias seguidos. E, pelo menos até o final de julho, segundo o infectologista Anthony Fauci, mais de 99% das mortes por Covid se concentram entre quem não foi completamente imunizado.

Esse é o poder da desinformação. O movimento antivacina que levou muitos americanos a recusarem a imunização pode parecer algo espontâneo, mas é como o couro sintético: deliberadamente feito e desenhado para se passar por algo natural.

Conforme grupos internacionais ou nacionais, como a Sociedade Brasileira de Imunologia e a União Pró-Vacina estudam o movimento antivacina, descobrem um movimento organizado e bem financiado, promovido por uma indústria multimilionária.

É um movimento que sabe usar redes sociais melhor do que qualquer órgão público bem intencionado, para cultivar a hesitação e transformá-la em negação às vacinas, enquanto lucram com produtos como suplementos e tratamentos para promover a "imunidade natural" e com visualizações.

Nos EUA, esse movimento cresceu muito com a pandemia e agora vemos as consequências sociais do seu sucesso financeiro: americanos não vacinados buscam ivermectina enquanto morrem como moscas.

Aqui no Brasil, fizemos o contrário, consumimos ivermectina e outros engodos do tratamento precoce empurrados por quem lucrava enquanto estávamos desesperados pelas vacinas. Mas agora que podemos nos vacinar damos um exemplo de colaboração graças à competência dos brasileiros e do SUS em vacinar. Que as redes sociais sejam responsáveis e responsabilizadas pelo seu papel em informar e desinformar a sociedade e que possam agir de acordo para continuarmos assim.

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