Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Benjamin Steinbruch

Conta-se que o professor Mario Henrique Simonsen (1935-1997) foi convidado para uma reunião com a equipe econômica de Fernando Collor, no dia da posse, para ser informado sobre o plano econômico que seria lançado no dia seguinte, 16 de março de 1990.

Era início da noite, e Collor já havia subido a rampa do Planalto sob o aplauso de uma multidão quando Simonsen deixou a reunião e pegou um táxi para casa. No caminho, viu pessoas que caminhavam animadas com a grande novidade, que era a posse do primeiro presidente eleito pelo voto popular em mais de 20 anos.

Simonsen, um dos mais brilhantes economistas brasileiros, contou a amigos que, ao olhar para aqueles cidadãos, pensava: "Coitados, amanhã estarão todos mortos e não sabem de nada".

De fato, no dia seguinte à posse, numa sexta de feriado bancário, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, anunciou o Plano Collor, cuja medida principal era arrasadora: 80% de todos os depósitos bancários dos brasileiros que superassem 50 mil cruzados novos, incluindo os da caderneta de poupança, ficariam congelados por 18 meses.

Foi uma tentativa desesperada e desastrada de conter a hiperinflação, que rondava em torno de 80% ao mês. Nenhum mísero sinal de que isso poderia acontecer apareceu durante a campanha política de Collor, centrada no combate à corrupção e aos marajás do serviço público.

Medidas surpreendentes costumam ser um desastre para autoridades governamentais. Candidatos em geral, principalmente à Presidência, precisam apresentar planos claros sobre aquilo que pretendem e prometem fazer se eleitos. E, mais importante, cumprir as promessas depois da posse.

Mais de uma dezena de candidatos, com toda a certeza, vai disputar a Presidência nas eleições de outubro. O Brasil precisa saber o programa de governo de cada um deles.

Que importância darão a medidas que promovem o crescimento e o emprego?

Vão permitir a manutenção de criminosas taxas de juros, enquanto o país sofre com recessão e desemprego? Ou seja, o Banco Central terá ou não duplo mandato, para controlar a inflação e o nível de emprego?

Vão manter abandonada a empresa nacional, sem crédito civilizado, sob carga tributária sufocante e burocracia infernal?

Incentivarão a indústria nacional ou a deixarão morrer à míngua, como se faz hoje?

Manterão austeridade no gasto do dinheiro público, mas os cortes serão direcionados para despesas correntes ou para investimentos?

Farão a reforma da Previdência para aliviar os cofres públicos, mas ela será voltada ao combate a privilégios ou ao aposentado indefeso?

Terão planos para setores estratégicos nacionais, como a área de energia e combustíveis, para que o país não sofra com situações caóticas como a que vivemos nos últimos dias?

Candidatos só podem ser efetivamente levados a sério se tiverem programas detalhados. Observações vagas sobre temas importantes e polêmicos, para fugir de responsabilidade, denotam despreparo, insegurança e oportunismo.

Há nas redes sociais espaço infinito para a publicação desses planos. Se o eleitor puder chegar à urna tendo lido as propostas, certamente fará uma escolha mais consciente.

Nenhum candidato vai garantir o paraíso, mas sempre poderá, como Winston Churchill, prometer "sangue, trabalho, suor e lágrimas" para realizar seu programa. E só isso não basta. Candidatos devem demonstrar viabilidade política. Aventureiros que desprezam as forças e influências partidárias, em geral, se dão mal.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.