Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

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Benjamin Steinbruch
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Com concentração bancária perversa, pouco importa que BC tenha reduzido os juros

Não há como justificar as taxas dos bancos, nem pela inadimplência nem pelos compulsórios

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Quatro maiores bancos do país concentram 78,51% de todos os empréstimos feitos por instituições financeiras no Brasil, diz BC - www.fotoarena.com.br

Coincidência e sorte me levam a escrever neste espaço no feriado do Dia do Trabalho. Digo isso porque não há nos dias atuais, de rápidas e aflitivas mudanças tecnológicas, problema mais angustiante do que a falta de emprego e trabalho.

Cada vez mais, a inteligência artificial vai substituindo a mão de obra humana. Ocorre que os robôs, diferentemente dos humanos, ajudam a aumentar a produtividade, mas não pagam Imposto de Renda, contribuição previdenciária e outras taxas e impostos que convencionamos chamar de encargos trabalhistas.

Há dias, li um articulista sugerindo que, em breve, os governos terão de optar pela taxação dos robôs.
Sem dúvida, ideias como essa surgem porque as novas tecnologias efetivamente já desempregam milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Aqui no Brasil, porém, por mais que esses avanços também estejam presentes, ainda não podemos culpar os robôs pelos nossos problemas. Somos nós, os humanos, os maiores culpados.

Os números são reveladores. Em 2015, o país perdeu 1,3 milhão de postos de trabalho formal. Em 2016, mais 1,5 milhão, e, em 2017, finalmente, o quadro mudou e houve só uma pequena perda, de 21 mil vagas.


Lá fora, nas economias desenvolvidas, mesmo com o avanço das tecnologias, a tendência não foi essa. Há crescimento econômico e de emprego. A economia global cresceu 3,1% em 2016, 3,8% em 2017 e deve crescer mais de 3,9% em 2018.

É óbvio, portanto, que o país está na situação atual em razão da nossa incompetência e, até mesmo, da nossa arrogância ideológica. O novo consenso na área econômica, que muitos custaram a admitir, indica que a tênue recuperação esboçada em 2017 está sendo sufocada por algo que a Folha chamou, em editorial, de “anomalia dos juros bancários, sem paralelo no mundo civilizado”.

O óbvio está sendo, finalmente, reconhecido. Há uma concentração bancária perversa. Os quatro maiores bancos respondem por 78,5% do crédito concedido —dez anos atrás, essa proporção era de 55%.

Com esse poder, pouco importa que o BC tenha reduzido sua taxa básica pela metade, para 6,5% ao ano, em um ano e meio. É ocioso enumerar as estarrecedoras taxas de juros cobradas nas operações de crédito, que atingem nível absurdo de 325% ao ano para os cheques especiais

Não há como justificar esses desatinos, nem pela inadimplência, que está em queda, nem pelos impostos e nem pelos compulsórios bancários. O que se vê é a manutenção em nível elevado do spread, que é a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram em seus empréstimos. Na prática, a margem de lucro.

O país precisa fazer sua lição de casa se quiser derrotar esse que passou a ser o inimigo número um da recuperação da economia e do emprego. Tramita na Câmara o projeto de lei que aperfeiçoa o cadastro positivo de pessoas e empresas. Sua aprovação é necessária, pois vai criar uma lista de bons pagadores, estimular a concorrência pela conquista desses clientes e, com isso, reduzir os juros cobrados. Isso vai incentivar a entrada de novos competidores no mercado de crédito, entre eles as fintechs, que usam novas tecnologias e foram regulamentadas na semana passada pelo BC.

Sem conseguir fazer, por razões políticas, as reformas necessárias, principalmente a da Previdência, o país precisa crescer para elevar as receitas e ter um fôlego fiscal que permita a rearticulação do setor público após as eleições.

O crédito com custos civilizados para consumo, capital de giro e investimento é o instrumento que vai permitir essa travessia.

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