Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

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Vamos construir moradias decentes para o brasileiro e, ao mesmo tempo, criar empregos

Além de atender à demanda de moradias, construção impulsiona uma cadeia gigante da economia

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O incêndio e o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, há duas semanas, expuseram o drama habitacional do país. Com mais ou menos ênfase, esse foi o destaque dos principais jornais no dia seguinte à tragédia do Paissandu.

Destaque correto. São Paulo, uma das cidades mais ricas do país, tem um déficit aproximado de 360 mil moradias e 1,2 milhão de famílias vivendo em situação que as autoridades chamam de "precária". São favelas com casas construídas de restos de madeira, casarões antigos, cortiços e prédios abandonados e sem nenhuma estrutura, como o Wilton Paes de Almeida.

O incêndio no Paissandu, centro histórico de São Paulo, abalou os paulistas e todo o Brasil. Mas, a bem da verdade, tragédias como essa, infelizmente, são frequentes na maior metrópole do país. Não passa um ano sem que haja um grande incêndio em favelas paulistanas. Famílias perdem tudo o que têm e são transferidas pelo poder público de um lado para outro da cidade, para moradias precárias, muitas vezes às margens de riachos poluídos e ao lado de depósitos de lixo.

Em todo o país, o déficit habitacional atinge 7 milhões de moradias. Será tão difícil enfrentar esse problema ou falta vontade política?

Habitação, na verdade, é um problema crônico no país. Neste momento, porém, em que a retomada do crescimento econômico se tornou vital para a estabilidade brasileira, inclusive política e social, a correção desse problema abre a oportunidade de estimular um setor importantíssimo da economia.

O pesadelo recorrente no Brasil de hoje é o desemprego, que atinge, angustia e humilha mais de 13 milhões de pessoas. O setor da construção é sabidamente o que mais cria empregos. Estima-se que trabalhem para a construção, de forma direta ou indireta, 13 milhões de brasileiros, curiosamente um número idêntico ao dos desempregados.

A construção ou a reforma de casas e prédios demandam muitos trabalhadores especializados ou não —os robôs ainda não assentam tijolos, não pintam paredes nem elaboram projetos arquitetônicos. Ao mesmo tempo, ativam-se setores de materiais de construção, ferro, cimento, tintas, vidros, tubos, alumínio etc. E há, também, impacto direto nos setores de móveis e eletrodomésticos.

Portanto, além de atender à demanda de moradias (novas e reformadas), a construção impulsiona uma cadeia gigante da economia, que inclui ainda o saneamento básico, importante para a saúde da população.

O PIB do setor da construção civil teve quatro anos seguidos de queda, de 2014 a 2017. Nesse período, a produção recuou quase 25% em termos acumulados, ou seja, o setor perdeu um quarto de seu porte. Mais de 1,2 milhão de trabalhadores do segmento foram jogados ao desemprego só no ano passado, embora o PIB geral tenha crescido um pouco, 1%.

Não vale o discurso de que não há dinheiro para essas obras. BNDES, Fundo de Garantia, Caixa, Banco do Brasil e bancos privados têm grandes volumes de recursos não aplicados e que podem ser destinados à construção civil com um estalar de dedos. Importante: com juros civilizados.

A estimativa do setor é que, para cada R$ 1.000 investidos na construção civil, R$ 250 retornam aos cofres públicos em forma de impostos.

Em dez anos, de 2015 a 2025, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, se nada for feito, o déficit habitacional deverá crescer para 14,5 milhões de domicílios. Vamos construir moradias decentes para os brasileiros e, ao mesmo tempo, criar empregos. Dois coelhos com uma só cajadada!

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