Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

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Benjamin Steinbruch

Urso Branco

Não fomos capazes de entregar um país melhor para nossos jovens

Visitando Terenos, município em Mato Grosso do Sul, ainda muito pequeno, com apenas 6 anos, ele viu um enorme lobo-guará que passou sossegadamente na nossa frente. O animal cruzou o gramado, sentou-se e ficou nos encarando por mais de três minutos, num momento único de beleza. A partir daí ele se apaixonou por bichos e pela natureza.

Loiro, alto, bonito e sensual, ele nasceu branquinho, branquinho. Hoje, aos 20 anos, é grande e forte, com mãos que parecem patas de urso. Urso branco. Dono de um sorriso contagiante, os seus olhos sorriem também. Conciliador, sempre minimizou os problemas de seus irmãos e os defendeu quando em dificuldade, em qualquer situação.

Filhotes de lobo-guará, que nasceram há um ano no zoológico de Bauru - Divulgação

Defensor das florestas e dos animais, ele se diferencia de outros jovens de sua idade por colocações muito contundentes:

"Vamos deixar as fazendas intactas."

"Para que derrubar o mato?"

"Vamos abrir as fazendas à visitação pública, virgens, intocadas. Elas vão valer muito mais no futuro!"

"Vamos transformá-las em florestas nacionais, privadas, de uso público."

Apaixonado pelo National Geographic, revista e canal de televisão destinados a reportagens e documentários sobre a natureza, ele queria desde pequeno trabalhar lá. Quando cresceu, disse que um dia compraria a revista.

Sou filho de gaúcho e, como tal, gosto de um bom churrasco. Ele, não.

"Para que matar o boi? É muito mais valioso vivo do que morto." Diz isso com tanta convicção que me faz, aos poucos, pensar no assunto cada vez mais frequentemente.

Ainda aprecio bastante as carnes, mas, quando chega o assado, fico pensando: será que vale a pena? Estou quase me convencendo de que, quanto menos comermos carnes, mais a natureza vai ganhar, porque mais bichos vão viver.

Carinhoso, às vezes do nada, ele desaba seu 1,90 metro na cama dos pais para ficar abraçado com a gente.

Beijoqueiro, às vezes no meio de uma reunião de trabalho, ele nos presenteia com seu carinho e um beijo afetuoso. Já adolescente, em Volta Redonda, certa vez surpreendeu a todos que estavam à minha volta, dentro da usina siderúrgica, junto ao calor do Alto Forno-3, com um beijo e um abraço de fazer inveja a qualquer pai do mundo.

Mendel é assim, esse filho carinhoso, amoroso, ligado à natureza, defensor de todos os mais fracos, harmonioso, sempre se expondo para proteger os outros, assumindo novas responsabilidades e estudando fora do Brasil.

Gostaria que este último artigo na Folha, depois de 20 anos ininterruptos com textos semanais ou quinzenais, servisse de incentivo para que Mendel e todos os milhões de jovens brasileiros não desistam nunca e dediquem-se à busca interminável da melhora do Brasil e do povo brasileiro.

O país vive um momento de enorme carência de conciliação, civilidade e ética.

É necessária também uma política persistente e voltada ao crescimento econômico, com geração expressiva de emprego e renda. E há urgência de completar as reformas, principalmente a política, a tributária e a da Previdência.

Escrevo neste espaço desde o fim do século 20. Fui e sou um entusiasta das políticas propositivas de desenvolvimento e mantenho a convicção de que sem elas não teremos um país próspero, igualitário e feliz.

Hoje o país está em risco. Todos nós estamos em risco, já que não fomos capazes de entregar um país melhor para nossos jovens. Quem sabe eles possam, num futuro próximo, nos oferecer um Brasil aperfeiçoado, menos corrupto, mais igualitário, com mais oportunidades e justiça. É o que espero.

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