
Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.
República das medalhas
BRASÍLIA - Uma deputada estadual gaúcha aproveitou os últimos dias de mandato para distribuir medalhas a dez parentes. A notícia, divulgada no fim de semana, joga luz sobre uma velha prática das nossas casas legislativas: a concessão desenfreada de comendas, moções, títulos honorários e outros rapapés.
O hábito é tão disseminado que algumas Assembleias Legislativas chegaram a criar cotas de honrarias. No Rio de Janeiro, cada um dos 70 parlamentares tem direito a 24 moções anuais de "regozijo, congratulações, louvor, repúdio ou pesar". Até dezembro, a soma pode chegar a 1.680.
O cálculo não inclui condecorações mais nobres, como os títulos de cidadão fluminense e a Medalha Tiradentes, que já foi conferida a figuras como a apresentadora Mara Maravilha e o pagodeiro Waguinho.
Em geral, a escolha dos homenageados não requer muita explicação. Prevalece a regra de que o mandatário pode condecorar quem quiser. "Devo tudo aos eleitores, mas também à família. Agradecer é um ato de justiça", disse Marisa Formolo (PT), a deputada gaúcha que agraciou o marido, seis irmãos e três filhos.
Além de gerar gastos desnecessários, a farra das medalhas contribui para aumentar o fosso entre os cidadãos e quem deveria representá-los.
Há três anos, a ONG Transparência Brasil mostrou que 65% das propostas votadas nas Assembleias eram irrelevantes, ou seja, não tinham qualquer importância para a vida dos eleitores. Em vez de desempenhar suas funções, a maioria dos deputados preferia gastar o tempo mudando nomes de logradouros, marcando sessões solenes e, é claro, distribuindo condecorações.
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Enquanto as torneiras secam, a Prefeitura de São Paulo prepara a construção de um gigantesco espelho d'água no vale do Anhangabaú. O racionamento, enfim admitido por Geraldo Alckmin, pode ter afetado as ideias de Fernando Haddad.
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