Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Sobre o Afeganistão, fiquei confusa ao encontrar 'Taleban'; não era 'Talibã'?

Amigos gentis e especialistas em linguística explicaram que o termo vem do idioma pachto e significa 'estudante'

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No princípio era o verbo. Depois, os substantivos que a gente não sabe se têm hífen ou não. E os adjetivos, que podem ser com “ç” ou “ss”. Ainda bem, então, que o mundo foi criado. E junto com ele, os dicionários.

Adoro consultá-los, basta surgir uma boa dúvida. A mais recente veio do noticiário. Para além do terror que é assistir a fundamentalistas tomando o Afeganistão, fiquei confusa ao encontrar a palavra “Taleban”. Não era “Talibã”?

Amigos gentis e especialistas em linguística explicaram que o termo vem do idioma pachto e significa “estudante”. Transliterado para nosso alfabeto, seria “Taleban” ou “Talibã”, tanto faz. Mas quem disse que isso me deteve? Fui ao dicionário mesmo assim.

Quando o chamado “pai dos burros” era de papel, toda busca se tornava mais objetiva. Você catava a palavra e lia a definição. Com glossários online, links nos transportam de sinônimo em sinônimo, antônimo a antônimo, de sinônimo a antônimo de sinônimo e, peraí, me perdi.

Ilustração de um coelho pulando e um filhote de cervo levantando uma das patas da frente no centro da imagem. O coelho diz "Bambi?" e o cervo responde "Nhambi!"
Marcelo Martinez/Folhapress

Aliás, não tenho sossego desde o último acordo ortográfico, pois sigo tendo ideias com acento. Sinto saudade de diferenciais que caíram e mágoa do trema, que foi embora na tranquilidade. De tão apegada, virei minha própria avó, que jamais deixou de escrever “flôr” e “pharmacia”.

Pior ainda é a sensação de viver presa numa espécie de Dia da Marmota gramatical, sempre consultando as mesmas regras que nunca consigo decorar. Recorri, portanto, a um app de dicionário, que a cada uso sugere um simpático vocábulo. Funcionou bastante até me oferecer, do nada, NHAMBIBOROROCA.

Danou-se. O que era um simples e meigo bambi da fauna mato-grossense tornou-se a porta de entrada para um labirinto léxico fascinante, que me fez perder de vez a noção de tempo. Quando dei por mim, já eram 72 horas vivendo o mesmo dia, sem comer e tomar banho, só me divertindo com palavras.

E como não amá-las? Utilizo muito as minhas favoritas: muquifo, cocuruto, traulitada, furdunço. Também me apaixonei por “inconstitucionalissimamente”, achando ser a maior da nossa língua. Até que descobri a real recordista e suas 46 letras que mal cabem numa linha única do dicionário. Usarei aqui, mesmo sendo doença pulmonar causada por cinzas vulcânicas. E acabando com meu espaço na página. Mas quem se importa? Baita palavra final. Então lá vai: “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”.

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