Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune
Descrição de chapéu
beleza

Alongar os cílios faz você enxergar todo o mundo de outra maneira

Bem disposta e com olhar vivaz, brilhei nas reuniões por Zoom e recebi elogios intrigados

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"Qual modelo você quer?"

"Quais você tem?"

"Boneca, russo, gatinho..."

"Qual é o mais discreto?"

"Nenhum."

Se você não é um dos leitores habituais desta coluna (inclusive obrigada a todos, forte abraço), não estranhe. Neste espaço, faço criteriosa seleção de assuntos, sempre visando o aleatório. O mundo lá fora e suas vicissitudes já estão bem retratados por figuras de maior renome, de modo que aqui nosso compromisso é com o banal mesmo.

Dito isso —para não incorrer no velho truque do cronista que fala sobre a própria crônica quando lhe falta assunto—, aviso que o tema de hoje é cílio. E assim, peço licença a todos os meus ídolos do jornalismo e do visagismo para me alongar nessa pauta fascinante.

Ilustração de pessoa com referência a personagem Alex do filme Laranja Mecânica. Ele está com chapéu coco preto, cílidos marcado, máscara, camisa laranja e suspensórios da mesma cor. Um balão de fala sai da lateral da imagem "aposto que é cílio falso!".
Publicada neste domingo, 24 de outubro de 2021 - Marcelo Martinez

Sempre me considerei uma suave troglodita, do tipo que não consegue usar óculos escuros a sério por não se achar cool o bastante. Só fiz escova duas vezes na vida. Jamais apliquei botox. Ainda uso termos como "rímel" e "creme rinse". E, quando ia ao salão, disfarçava minha ogrice sentando perto das senhoras octogenárias com cabelo roxo.

Até que, nas reuniões intermináveis por Zoom, tornei-me a cara mais abatida dos quadradinhos. Nenhuma maquiagem dava jeito. Isso e o fato de que as máscaras, no dia a dia, nos transformaram em olhos ambulantes. Ou seja: não havia mais por que lutar.

"Então relaxa, amor, foca na beleza", disse Monique, tão pestanuda quanto uma irmã Kardashian, enquanto exibia seu mostruário vastíssimo de cílios falsos. "Tem também tigresa, tufinho, com cerda cruzada, magnético..."

Deitada com fita isolante nas pálpebras, me imaginei na cena do filme "Laranja Mecânica" em que o protagonista é punido com um alargador de olhos e obrigado a ver cenas impactantes de violência. No meu caso, tutoriais cruéis de depilação com pinça. Entretanto, tudo correu tão bem que cochilei e acordei perfeitamente ciliada.

E que up maravilhoso, minha gente. Bem disposta e com olhar vivaz a qualquer hora do dia, brilhei nas reuniões. Venci debates e encarei outros pontos de vista, com nova quilometragem ciliar. Recebi elogios intrigados. "Você tá diferente, mas não sei dizer o que é..." Minha autoestima, renovada num abrir e fechar de olhos.

Chato é que cílio cai rápido. Piscou, perdeu. Aproveito para trapacear, pressionando cada fio entre os dedos e fazendo pedidos. Se a mandinga funciona com os de fábrica, por que não com os fake? Tenho o dobro agora. Posso pedir pelo mundo e por mim, coisas úteis e fúteis. Quem diria? Cílios sendo democráticos, sobretudo os de volume russo. É liberdade a olhos vistos.

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