Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune
Descrição de chapéu

Stop agora se joga com xingamentos ao presidente e até variantes da Covid

Voltar ao jogo da minha infância é confirmar que o mundo está bem mudado

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A confusão já começa no convite para jogar, posto que ninguém chega a um consenso quanto ao nome da brincadeira. Por pura nerdice, lancei enquete nas redes sociais e, diante de inesperada votação recorde, descobri: 25% das pessoas conhecem como adedonha, e 29%, adedanha. Sendo stop o líder isolado, com 46% da nostalgia.

Em boa parte do Mercosul é tutti frutti. No México, basta. Onde se fala alemão chamam de cidade, país, rio, ao passo que na França, Bélgica e adjacências francófonas é vestibularzinho.

A dinâmica, contudo, se mantém universal: rapidamente, preencher uma tabela com palavras iniciadas pela mesma letra. Simples, né? Eu também achava, até que meu filho foi alfabetizado e brincar com ele me fez notar, de um jeito diferente, como o mundo não é mais o mesmo.

Na arte de Marcelo Martinez, uma página de caderno, com letra infantil, reproduz um jogo de "Stop" para crianças de hoje. Na coluna "memes", está escrito: "Cacete de agulha; Já acabou, Jéssica?; Pfizeeeeeer; Ainda é quarta-feira, capitão". Na coluna "Influencer", "Casimiro; Jade Picon; Nath Finanças; Phellyx e Anita". E na coluna "Cringe", "Café da manhã; jantar; natal; pais; almoço".
Ilustração publicada em 4 de julho de 2022 - Marcelo Martinez

Nome, comida, flor e... Cigarro. Diga-me suas categorias na adedanha e eu lhe direi o quão incorreto é. Jamais me esquecerei dos milhares de pontos que eu e meus amiguinhos fazíamos, escrevendo a lápis Free e John Player Special, enquanto nossos pais bafejavam fumaça durante a própria jogatina. "Existe Continental, sim, e posso provar!" Daí corríamos, trazendo um maço antigo da nossa avó.

Aliás, que honra sempre foi perder dos mais velhos, detentores das melhores referências. Uma espécie de arqueologia urbana ao vivo, com eles rabiscando na velocidade da luz carros já fora de circulação: Gordini, Vemaguet, Aero Willys, Dodge Dart. Eu, que não decoro modelos atuais, vivo deixando espacinho em branco. Caiu U: pode Uber?

Outra categoria que denuncia idade é CEP, vulgo lugares do mundo que fazem a gente se perder. "Tá, não tem mais Tchecoslováquia. E República Tcheca? Tchéquia? Não é possível. Ainda vale Bielorrússia? Birmânia ou Mianmar? Suazilândia virou Essuatíni?"

A cada rodada, mestrados, doutorados e MBAs são postos à prova. Nunca na vida apontei para uma vitrine, dizendo "moço, aquele sapato fúcsia ali, 38, por favor". Fúcsia só existe enquanto cor com a letra "F".

"Dragão não é animal com 'D'!" Se tinha em "Game of Thrones", pode. "Greige não existe!" Se está no recebidinho de esmaltes da ex-BBB, pode. E assim por diante, entre risadas e catimbadas. Se colar, colou.

"Na próxima podemos ter youtubers, mãe?" Claro, filho, precisamos nos alinhar com as incessantes demandas do mundo. Procedimentos: abdominoplastia, botox, clareamento. Xingamentos para o presidente com a letra "G". Operações da Polícia Federal. Variantes do coronavírus. Stop!

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