Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Sem aliança forte, Ciro pode ser engolido pelo poder de Lula

Presidenciável atrai voto lulista, mas falta de estrutura política ameaça campanha

Ciro Gomes durante o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República
Ciro Gomes durante o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República - Sergio Lima/AFP

Ainda que Lula fique de fora da corrida presidencial, a eleição deste ano será marcada por uma dose significativa de lulocentrismo. A migração dos votos do ex-presidente deve definir o candidato que irá ao segundo turno pela esquerda, sob a forma de uma lista tríplice em que despontam Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e, provavelmente, Fernando Haddad (PT).

O virtual sumiço de Marina e o teatro da indecisão petista sobre seu plano B deram fôlego extra a Ciro na largada. O ex-ministro começou a atrair parte dos eleitores fiéis de Lula —incluindo aqueles que apontam o PT como partido de preferência e dizem que votariam no candidato indicado pelo ex-presidente.

Ciente de que não deve obter o apoio formal dos petistas, Ciro decidiu correr por fora: reforçou o discurso para tentar se transformar em herdeiro natural do espólio de Lula.

O presidenciável passou a divulgar uma plataforma econômica que pode atrair empresários órfãos das políticas de incentivo à indústria implantadas pelos petistas, além de sindicatos e trabalhadores do setor.
O ex-ministro tem potencial para se consolidar como alternativa viável a Lula na esquerda, mas precisará reverter sua falta de estrutura partidária e seus recentes atritos com o PT.

Depois de meses de ataques aos petistas, Ciro acentuou suas críticas aos processos judiciais contra Lula, em um esforço claro de alinhamento a seu eleitorado. O pedetista tem 7% das intenções de voto entre aqueles que concordam com a condenação do ex-presidente e 14% no grupo que considera a decisão injusta.

Falta o mais difícil: força política. O PDT é um partido relativamente pequeno, com direito a apenas 33 segundos na propaganda eleitoral e poucos recursos para financiar campanhas —enquanto o PT tem quase o triplo dessa estrutura. Sem alianças, Ciro pode ser engolido pelo poder de influência de Lula e ver um poste do ex-presidente tirar de suas mãos uma vaga no segundo turno.

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