Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
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Aliança eleitoral se torna pacto de sobrevivência à Lava Jato

Políticos negociam acordos em busca de preservação coletiva e até perdão judicial

As articulações para a eleição presidencial deste ano trazem consigo uma busca por cartas de “saída livre da prisão”. A disputa pelo poder a partir de 2019 representa, para alguns grupos, uma guerra por sobrevivência que pode servir para controlar investigações e até tirar seus integrantes da cadeia.

O novo ímpeto dos partidos de centro-direita para trabalhar pela unificação de suas candidaturas comporta esse objetivo. Esse campo passou a perceber que, fragmentado, corria risco de uma derrota humilhante, o que eliminaria qualquer chance de influenciar o novo governo.

A turma de Michel Temer e partidos como PSDB e PP têm seus motivos para querer manter certo prestígio em Brasília. O próximo presidente poderá escolher um novo chefe da Polícia Federal, trocar o comando da Procuradoria-Geral da República e preencher duas vagas que serão abertas no Supremo.

Por trás da construção de alianças, existe um pacto velado de preservação coletiva. Estar no poder nem sempre se traduz em impunidade (visto que a Lava Jato atingiu os andares mais altos da República), mas é sempre bom ter amigos em posições de destaque.

Do lado do PT, o movimento é feito de maneira mais desavergonhada. Dirigentes da sigla querem propor a candidatos de centro-esquerda um acordo pela concessão de perdão judicial para o ex-presidente Lula, preso há um mês em Curitiba.

Ciro Gomes (PDT) acha a ideia uma “burrice”. “Eu gostaria muito de ver o Lula livre, mas o caminho [...] é apostar nos recursos judiciais. Eu consigo ficar de cabeça fria para administrar esse grave momento, porque estou sentindo a responsabilidade crescer nas minhas costas”, disse.

O combate à corrupção está tão incrustado na vida do país que parece difícil prever sucesso para essas tentativas —mas não se deve tratá-las como conspirações fantasiosas. Não se pode esquecer que alguns políticos acreditavam que, com a troca de um governo, seriam capazes de “estancar a sangria”.

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