Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Turbinados por lobby, ruralistas buscam influência além do campo

Frente agropecuária ganha poder sob Temer e tenta liderar agenda conservadora

Sessão de comissão especial da Câmara na qual foi aprovado o relatório que altera legislação sobre uso de agrotóxicos
Sessão de comissão especial da Câmara na qual foi aprovado o relatório que altera legislação sobre uso de agrotóxicos - Pedro Ladeira/Folhapress

Das mais de 300 frentes parlamentares em atividade no Congresso, nenhuma é tão poderosa quanto a bancada ruralista. Apoiado pelo lobby do agronegócio, o grupo ganhou força nos momentos de crise do governo Michel Temer e passou a exercer influência política em terrenos que vão além da lavoura.

O campo ficou pequeno para esse clube de senadores e deputados —conservadores em sua maioria.

“Agora, [a TV] mostra beijo de homem com homem, de mulher com mulher. Vai dizer que isso é normal? Pode ser natural, mas não precisa fazer propaganda”, reclamou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), vice-presidente da bancada, em um jantar na segunda-feira (25).

A festa comemorava a aprovação, naquela noite, do projeto que facilita o uso de agrotóxicos, mas Marcos Montes (PSD-MG) sustentou que os ruralistas precisam ir além. “Como na época do impeachment, temos que apontar um caminho para o Brasil”, disse o deputado.

Com 209 deputados, a frente representa 40% da Câmara e atua com uma disciplina que faz inveja a muitos partidos. Quase 85% de seus integrantes votaram pela derrubada de Dilma Rousseff, por exemplo.

O bloco também deu dois terços dos votos que salvaram Temer na primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República, em 2017. A negociação e a chantagem foram explícitas. Na véspera, o presidente editou uma medida provisória que permitiu a renegociação de dívidas de R$ 17 bilhões dos produtores rurais.

Organizada e com dinheiro de sobra, a bancada ocupa espaços estratégicos. Capturou metade da Comissão de Meio Ambiente da Câmara e, em 2015, dominou 32 das 48 cadeiras do colegiado que discutia regras de demarcação de terras indígenas.

Os ruralistas chegam à campanha presidencial disputados a tapa pelos pré-candidatos. Turbinados pelo PIB do campo, que deixou a economia brasileira com o nariz fora d’água, esses políticos pretendem influenciar mais do que o debate sobre a agricultura na eleição.
 

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