Em 2006, Felipe Calderón se tornou presidente do México ao provocar medo nos eleitores. O publicitário Antonio Sola criou uma campanha que dizia que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador era perigoso e levaria o país à ruína. Calderón venceu por 233 mil votos, sob acusações de fraude nas urnas.
O antigo marqueteiro de Calderón passou os últimos cinco meses anunciando que, em 2018, López Obrador seria eleito. “Agora, a emoção predominante é a ira. E a ira é muito mais forte do que o medo”, declarou Sola ao jornal The New York Times.
A onda mundial de desencanto com a política mexeu com os sentimentos do eleitorado. Em muitos países, a fúria contra o sistema superou o receio de apostar em propostas que poderiam parecer arriscadas em tempos de serenidade.
Foi assim no “brexit”, quando os eleitores britânicos ignoraram o perigo de isolamento, votaram em protesto contra as políticas vigentes e decidiram sair da União Europeia.
O mesmo recado foi dado nos EUA em 2016: os americanos desprezaram Hillary Clinton, que acusava Donald Trump de ser “temperamentalmente inapto” para ser presidente. Os eleitores gostaram mais do discurso do candidato republicano contra o establishment e toparam arriscar.
O Brasil experimentou reações diversas aos apelos emocionais do marketing eleitoral. Em 2002, nem a atriz Regina Duarte conseguiu convencer apoiadores de Lula de que eles deveriam temê-lo. Triunfante, o petista discursou dizendo que a esperança havia vencido o medo.
Doze anos depois, o PT derrubou Marina Silva do segundo turno ao sugerir que sua eleição representaria uma vitória de banqueiros e tiraria comida da mesa dos mais pobres.
Na campanha deste ano, o medo e a fúria parecem estar em conflito. Embora a ira contra a corrupção seja grande, o favorito de 30% dos eleitores ainda é Lula, que foi condenado pela Justiça. Atrás dele vem Jair Bolsonaro (PSL), cujos apoiadores desconsideram os alertas sobre as posições radicais do militar da reserva.
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