De uma só vez, o chefe de gabinete do deputado Nelson Marquezelli (PTB) pediu a um servidor do Ministério do Trabalho a liberação dos registros de seis sindicatos de caminhoneiros do interior paulista. O parlamentar, dono de uma empresa de transporte de cargas, queria agilidade naquele processo e recorreu ao órgão que é feudo de seu partido desde 2016.
Investigações sobre a concessão de registros sindicais mostram que serviços públicos são tocados como negócios privados por partidos políticos. As siglas se apropriam de ministérios para transformar essas estruturas em patrimônio particular.
Segundo a Polícia Federal, a cúpula do PTB manipulava processos de inscrição de sindicatos para obter “tratamento diferenciado” para algumas entidades.
Uma troca de mensagens entre servidores mostra que a deputada Cristiane Brasil (PTB) pediu o favorecimento de um sindicato de mototaxistas. Um dos interlocutores acrescenta que “eles iriam ‘ganhar na loteria’ com o processo”, anotou a PF.
Cristiane Brasil, filha do ex-deputado Roberto Jefferson, é quem dá as cartas no Ministério do Trabalho, embora o Supremo tenha barrado sua posse na chefia da pasta. Ela dita a nomeação de funcionários e interfere na concessão de registros.
A criação de entidades de trabalhadores era um negócio lucrativo até o ano passado, quando foi extinto o imposto sindical obrigatório. As associações, entretanto, continuam a ter peso político, já que pertencem à base social de partidos e turbinam a mobilização de eleitores.
Apesar de sua origem trabalhista, que remonta a Getúlio Vargas, o PTB não tem vínculos com os principais sindicatos do país. Ainda assim, foi alçado ao ministério e usou a pasta para fazer política e negócios.
O aparelhamento e a exploração dessa área do governo são uma tradição. Em 2011, o ministro Carlos Lupi (PDT) se demitiu depois que funcionários do ministério foram acusados de cobrar propina para liberar convênios para ONGs.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.