Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Mentiras e vilões imaginários afastam campanha do mundo real

País tem problemas gigantes, mas há gente em campanha para derrotar moinhos de vento

Os problemas do Brasil são gigantes, mas há gente em campanha para derrotar moinhos de vento. Fantasmas, notícias falsas e teorias da conspiração vêm produzindo nesta eleição inimigos tão enganosos quanto os rivais imaginários que viviam na cabeça de Dom Quixote.

É mentira que um filho de Jair Bolsonaro tenha saído às ruas com uma camiseta com inscrição preconceituosa contra eleitores nordestinos. A montagem malfeita foi compartilhada 73 mil vezes por um único perfil no Facebook até ser contestada.

É mentira que o PT tenha aprovado um “plano de dominação comunista”. A frase circula há anos, com base em teses de uma corrente do partido que nunca foram adotadas pela sigla ou por seus candidatos.

É mentira que Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, tenha proposto o confisco de cadernetas de poupança no mesmo dia em que fez críticas ao 13º salário. Um blog publicou a informação falsa, que foi replicada por milhares de pessoas —incluindo um deputado federal.

É mentira que Fernando Haddad tenha dito que Lula é “o verdadeiro filho de Deus” e que “a igreja vai pagar caro” por sua prisão. A frase inventada tenta ressuscitar um pânico religioso sem fundamento. Foi divulgada por um eleitor de Bolsonaro e reproduzida mais de 80 mil vezes.

A imprensa verificou e desmentiu essa boataria. O combate a notícias falsas e a indignação com absurdos, como se vê, não são seletivos.

Há dois dias, Bolsonaro tratou os meios de comunicação como adversários e alegou que eles trabalham para desgastá-lo. Repetiu o discurso vazio dos poderosos de sempre.

O jornalismo independente é crítico de modo geral. Foi assim que vieram à luz erros e escândalos de Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer —e de seus opositores. Nenhum partido, afinal, deve exigir obediência e aplauso irrestrito da imprensa.

A contestação e a fiscalização dos candidatos ajudam a expor problemas e mantêm a campanha no mundo real. O eleitor não deve se mover por vilões fabricados pela ficção.
 

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